Foto: radiogeice.com
No espaço de uma hora o inferno parece ter descido aos arredores da cidade de Viana do Castelo e o fogo que deflagrou em Outeiro ao inicio da tarde rapidamente ficou descontrolado, alastrando por onde bem quis. Perre foi a aldeia vizinha mais visada, a cinco minutos da cidade. “Tão depressa me chamaram a dizer que estava lá em cima e logo a seguir já estava eu a fugir. Fiquei sem 15 mil metros de terreno e vinhas. Quer dizer, ficou a terra preta”, confessava João Ruivo que, aos 69 anos, não se lembra de “tamanha tragédia”.
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“Só deu tempo para regar os telhados das casas, senão ia tudo. Até a palmeira que tenho no quintal pegou fogo”, conta, ainda ofegante de combater as chamas. Eram 17.00 e o pior parecia ter passado. Valeu-lhe a família. “Vim a correr para ajudar o meu pai e foi o que valeu, apesar de a GNR não me querer deixar passar. O resto da família e da população ajudou, caso contrário tinha ardido tudo”, confessava Glória, por entre o lamento: “Eu sei que não têm toda a culpa, mas onde estão os bombeiros? Pagámos os nossos impostos e depois quem nos defende?”, insurgia-se, agora que o fogo já fugia para outra freguesia, Santa Marta de Portuzelo.
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“Estamos por aqui, a regar os telhados com água. Não podemos fazer mais, vamos ver como corre a noite”, apontava Hermenegildo Costa, presidente da Junta Santa Marta. Por entre o combate, um bombeiro lá desabafa: “Isto não vale a pena mais do que salvar as casas. O resto é para arder, não conseguimos”. E de facto salvaram-se as casas, mas o fogo chegou aos quintais. “O povo une-se nestas alturas. É a única hipótese que temos. Vamos buscar as nossas máquinas seja o que Deus quiser”, explicava Eduardo Ferreira, da Junta de Freguesia de Perre, enquanto “coordenava” as cinco cisternas que tinha ao seu cuidado para proteger um conjunto de meia-dúzia de casas.
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Três horas depois de deflagrar, e quando uma camada de fumo preto já vai cobrindo a cidade, de Viana do Castelo, chegam os meios aéreos. João é bombeiro e não resiste a soltar o comentário: “Agora é que eles chegam, quando o pior já passou”. Por esta altura já as estradas que ligam as freguesias de Perre, Outeiro e Santa Marta de Portuzelo estavam repletas de centenas de populares. “Nunca se viu uma coisa destas. É um Inferno”, gritavam as mulheres, por entre os panos da cozinha com que tapavam a cara, enquanto tentavam saber dos pertences e da restante família, por entre o apoio dos Bombeiros Municipais e Voluntários de Viana do Castelo.