O pagamento do aluguer de uma casa de praia em Moledo durante o mês de agosto é o “cachet” que o maestro António Victorino d’Almeida cobra à Câmara de Caminha por quatro concertos com convidados “de renome internacional”. “É uma casa muito modesta. Estamos a falar nem de mil euros”, explicou o maestro, em declarações à Geice FM. Há oito anos que Victorino d’Almeida é o responsável por um ciclo de concertos em Caminha, durante o mês de agosto, para os quais convida artistas de renome internacional, alguns dos quais “verdadeiras vedetas”.
“Foi um acordo que fiz com a Câmara: eles pagam-me o aluguer de uma pequena casa em Moledo, onde passo férias há 30 anos, e eu não cobro nem mais um cêntimo pela minha prestação”, disse o maestro. Este ano, os concertos terão lugar nas primeiras quatro segundas feiras de agosto, nas freguesias de Orbacém, Vila Praia de Âncora, Dem e Moledo. “É já uma tradição que o nome dos convidados não seja anunciado previamente. O público vai sem saber quem subirá ao palco. Mas garanto que, até à data, ninguém deu o seu tempo por mal empregue”, referiu. Nos concertos, Victorino d’Almeida vai atuando “aqui ou ali”, mas a sua função é mais de “mestre-de-cerimónias”, cabendo aos convidados o papel principal. Nas edições anteriores, a entrada foi sempre gratuita, mas este ano o espetador pagará cinco euros por cada concerto. O valor angariado reverterá para apoiar a aquisição de uma prótese para um jovem munícipe do concelho, que devido a um acidente de viação teve a necessidade de amputar um dos membros inferiores. Para o maestro, a cobrança da entrada poderá significar uma “machadada mortal” naquele ciclo de concertos. “Até aqui, em cada aldeia juntavam-se 400 a 500 pessoas para o concerto. Eram famílias inteiras, uma coisa verdadeiramente impressionante. E era esta realidade que me permitia convencer artistas de renome a cá virem. Agora, já viu quanto terá de pagar uma família de quatro ou cinco pessoas? O que temo é que passem a vir 40 a 50 espetadores. Seria o fim dos concertos”, afirmou. “Às tantas, nem ganham os concertos nem ganha a pessoa que se pretende ajudar. Podia-se perfeitamente agendar um concerto especial para esse fim, com o anúncio prévio dos convidados e certamente que o resultado seria bem melhor”, acrescentou. Dos cerca de 30 a 40 concertos que dá por ano, os de Caminha são os únicos pelos quais apenas cobra o aluguer da casa de férias. “É que eu sou músico e vivo do meu trabalho”, rematou.