Afife: Testamento da Sarração da Velha deixa “recados” à crise esta quarta-feira

O Núcleo Amador de Investigação Arqueológica de Afife cumpre esta quarta-feira a tradição da Sarração da Velha. A partir das dez da noite, a Sarração percorre os caminhos da freguesia de Afife, até à Mesa do Cruzeiro. Nesse local é lido o Testamento e feito o tradicional Auto de Fé. Esta que é a mais antiga Tradição de Afife, recuperada pelo Núcleo em 1978. A partir dessa data, a manifestação popular é organizada pelo N.A.I.A.A., que na quarta-feira a meio da Quaresma leva até ao Lugar do Cruzeiro uma grande multidão.

 
 
Desde “tempos imemoráveis”, que em Afife se Sarra a Velha e os afifenses participam com entusiasmo na tradição. O que hoje em dia acontece não foge em muito aos parâmetros que eram seguidos antigamente, visto que o N.A.I.A.A. fez um estudo apurado junto da população mais antiga. Logo na quarta-feira de cinzas, a seguir ao Carnaval, começam a fazer-se ouvir em Afife o som dos triquelitraques, anunciando que a meio da Quaresma vai sarrar-se a Velha. Nas noites anteriores à Sarração, a organização constrói um boneco com estrutura feita em varas de eucalipto e moldado a vimes ou salgueiros que depois é colocado numa padiola para percorrer os caminhos da freguesia. O objectivo é galhofar de forma inofensiva com a pessoa mais idosa da freguesia. Para que a pessoa possa ser identificada, o boneco é feito com a aparência da pessoa que se pretende sarrar. A tradição é sempre acompanhada pelo som dos triquelitraques, instrumentos característicos de Afife que só se fazem ouvir durante este período. João Palhares, presidente da direcção do N.A.I.A.A., diz que esta é uma tradição muito típica. Toda a festa é organizada ao pormenor. A Sarração da Velha sai à rua para percorrer os vários caminhos da freguesia até ao lugar do Cruzeiro. Aí, em cima da centenária Mesa de Pedra é lido o testamento que contempla sempre as pessoas solteiras da freguesia, bem como dirigentes e associações, sem esquecer as autarquias ou mesmo o padre. João Palhares diz que este ano, o testamento é marcado por recados sobre a crise. Toda a festa é acompanhada pelo ruidoso som dos triquelitraques que em tempos idos e após a queima da velha eram colocados no cimo das chaminés para que o fumo os conservasse. A partir das 22 horas desta quarta-feira, o N.A.I.A.A. faz cumprir a tradição da Sarração da Velha nas ruas de Afife.