A CP alega um prejuízo de 160 euros por cada ligação diária até Vigo para justificar a supressão da linha mas só num desses serviços, hoje, ficaram por cobrar mais de 300 euros. E o cenário, garantem utentes, maquinistas e funcionários galegos, é “perfeitamente habitual”. “O problema é que, mesmo sendo um serviço totalmente português, cabe à Renfe [operadora espanhola] assegurar a cobrança entre Tui e Vigo”.
Mas a empresa só coloca cobradores de vez em quando porque não os tem”, explicou à Lusa uma fonte da Renfe. Conclusão, garante, “é perfeitamente habitual os clientes viajarem sem pagar bilhete”, entre Valença e Vigo. “Hoje, por exemplo, não vamos ter qualquer cobrador nos quatro serviços. Amanhã talvez seja o mesmo”, acrescentou a mesma fonte. Isto porque nas estações portuguesas há muito que a CP cancelou a emissão de bilhetes com origem em Portugal e destino a Galiza. “Só vendemos até Valença. Depois tem de pagar a diferença ao cobrador que entrar em Tui”, explica, em Viana do Castelo, a funcionária da CP.
Só na estação de Viana, a última de grande dimensão antes da fronteira, entram mais uma dezena de passageiros para Vigo: “Vamos passear, às compras a Vigo”, conta um grupo de reformadas, enquanto se acomodam num comboio em perfeitas condições de conforto. São 10:15 e em menos de 45 minutos o comboio chega a Valença. A viagem paga pelos passageiros acaba aqui. Foram 4,60 euros desde Viana e resta esperar pela entrada do famoso, mas pouco visto, “interventor” – a figura espanhola do cobrador. A passagem da ponte leva pouco tempo e quinze minutos depois de chegar a Valença, o comboio está de novo parado, mas agora em Tui. Do cobrador, a quem os passageiros deviam pagar 3,30 euros pela viagem até Vigo, nem sinal. Como de resto já se previa desde o início da viagem e até já se comentava no interior da carruagem. Leila Gonzalez e o marido, Benito Prol, seguem viagem a partir de Tui. “Pagar? Usamos algumas vezes e acho que nunca pagámos. Nunca apareceu ninguém a quem entregar o dinheiro. Seria para deixar em cima do banco?”, ironiza a galega, sem compreender a situação.
No interior da carruagem portuguesa, com maquinista português e de uma empresa pública portuguesa seguem 101 passageiros. São 11:30, já hora local, e destes, fora os cerca de vinte que ainda entraram nas duas paragens seguintes, a CP deixou de cobrar 330 euros. “Tenho pena que acabem com este comboio. Não é por ser, posso dizer, gratuito, mas porque entramos no centro de Tui e saímos no centro de Vigo. É muito cómodo”, aponta o marido. Segundo as contas da própria empresa, o prejuízo mensal com a ligação entre Valença e Vigo é de 19.600 euros, o que dá uma média de 160 euros por cada uma das quatro viagens (duas em cada sentido) do serviço. Entre os passageiros de hoje, alguns viajam pela primeira vez para conhecer a linha… pela última vez. “É uma tristeza acabar com uma linha tão bonita como esta. O comboio vai quase cheio e não dá para perceber como tomam estas decisões. Quer dizer, quando não cobra bilhetes é difícil dar lucro”, afirma Manuel Leite, de máquina fotográfica na mão, por entre grupos de jovens que nitidamente vão passar o dia a Vigo. São 12:30 e o comboio chega à maior cidade da Galiza. O regresso, para grande parte destes passageiros, será com o mesmo comboio, ao final do dia, depois da 19:00. “Agora tiram-se fotos para mais tarde recordarmos o que era esta linha”, justifica Manuel Leite.