Mais de 28 meses depois de construído e com um milhão de euros gastos em manutenção, o ferry “Atlântida”, encomendado pelo Governo dos Açores, partiu hoje dos Estaleiros de Viana, mas ainda sem destino certo. O navio partiu às 15:20 deste sábado e é esperado depois das 10:00 de domingo no Arsenal do Alfeite, em Lisboa, disse fonte do Ministério da Defesa. “O navio parte para provas de mar até Lisboa. Depois há várias hipóteses em cima da mesa, entre as quais regressar a Viana do Castelo”, apontou a mesma fonte, sem adiantar mais pormenores.
Segundo fonte dos estaleiros, a bordo segue uma tripulação, recrutada sobretudo em Espanha, liderada pelo presidente do Conselho de Administração da Empresa, o também espanhol Francisco Gallardo. “É um filho que parte, embora ainda não se saiba muito bem para onde. Mas um filho que nos fez soltar muitas lágrimas”, descreveu à Lusa António Barbosa, porta voz dos trabalhadores, na presença de uma centena de populares que se foram despedir do navio, junto ao cais da empresa. Descrito como luxuoso e com capacidade para 750 pessoas, o “Atlântida” deveria ter seguido em maio de 2009 para os Açores, mas o governo regional, através da empresa pública de transporte marítimo “Atlânticoline” decidiu romper o contrato com os Estaleiros Navais de Viana do Castelo (ENVC), alegando o incumprimento na velocidade máxima (18 nós), por ficar-se nos 16,6 nós. O negócio valia 46,4 milhões de euros e um segundo ferry que estava em construção, o “Anticiclone”, mas acabou por transformar-se num dos episódios mais complicados em 60 anos da empresa vianense. Depois de os estaleiros recorrerem para o Tribunal contestando a rescisão do contrato, em dezembro de 2009, o governo dos Açores e a empresa pública acordaram resolver o diferendo em torno do “Atlântida” e do segundo ferry, com o pagamento, pelos ENVC, de 40 milhões de euros. Os estaleiros já tinham recebido 37,3 milhões pela construção dos dois navios, sendo o restante para pagar uma penalização. O acordo envolveu o pagamento à Atlânticoline, passando os navios para a propriedade dos ENVC. A última tranche deste acordo, dois milhões de euros, será paga em 2012. Além destes custos, só em manutenção, o navio representa um encargo anual de 500 mil euros, além da desvalorização do que passou a ser um ativo da empresa.
Em outubro de 2010, com a visita do presidente da Venezuela à empresa, ficou a promessa de Hugo Chavéz de levar o ferry e em fevereiro deste ano a administração dos ENVC anunciava ter fechado um acordo de princípio para a venda do navio por 42,5 milhões de euros, já com a adaptação do espaço de garagem – suficiente para 150 viaturas -, em cerca de 300 camarotes. Quatro meses depois, a mesma administração, liderada por Carlos Veiga Anjos, admitia a dificuldade em concretizar o negócio, tendo em conta que na Venezuela “já nem atendiam o telefone”, quando ainda faltava assinar o acordo alcançado. O destino futuro do navio deverá ser conhecido nas próximas horas. “Há dois anos que ele já devia ter saído. Não se percebe como isto pode acontecer neste país”, rematou António Barbosa.