O número de médicos e enfermeiros espanhóis nas unidades de saúde portuguesas caiu, desde 2004, cerca de 20 por cento, revelou o presidente da Associação de Profissionais de Saúde Espanhóis em Portugal (APSEP). “Desde 2004, ano em que atingimos os 1.900 profissionais, estamos a falar de cerca de 400 que regressaram a Espanha”, apontou Xoán Goméz.
Segundo o médico galego, a crise e as condições que começaram a ser oferecidas em algumas regiões espanholas, para combater a falta de médicos, são alguns dos motivos que explicam o cenário. “Eu vim trabalhar para Portugal em 1999 e, no mesmo dia, apresentaram-se em Coimbra, comigo, 24 médicos espanhóis. Hoje, isso é perfeitamente impensável, porque já não se contratam médicos desta forma”, apontou ainda. Xoán Goméz é hoje coordenador das Urgências da Unidade Local de Saúde do Alto-Minho, que envolve as unidades de Viana do Castelo, Ponte de Lima e Monção, além de médico de família em Ponte de Barca. Iniciou a carreira de médico em 1989, mas acabou por exercer mais tempo em Portugal do que em Espanha. “Nunca pensei em regressar, porque me sinto bem aqui, na relação com as pessoas, no serviço que faço. Mas sei que hoje ganho menos do que se tivesse regressado à Galiza. Ainda assim, encontrei mais estabilidade em Portugal e é por aqui que vou continuar”, admite.
Depois da contratação, em força, de médicos e enfermeiros espanhóis, sobretudo entre 1999 e 2004, chegando mesmo aos 1.900 profissionais, em apenas dois anos Portugal viu partirem cerca de 400. “Em Espanha abriram-se vários concursos especiais para contratar médicos e isso fez com que a taxa de saída destes profissionais de Portugal disparasse para os 15 a 20 por cento”, explica Goméz. Nos últimos meses, garante, a situação “estabilizou” nos 1.500 médicos e enfermeiros, dos quais estima a APSEP, cerca de 800 são oriundos da Galiza. “Com a crise, mesmo em Espanha, não têm aberto novos concursos para médicos e, por isso, a saída destes profissionais estabilizou. Ainda hoje estive de serviço toda a noite nas urgências e quem me veio substituir era um colega que viajou da Corunha, na Galiza”, acrescentou Xoán Goméz. Ainda assim, garante que nesta altura as diferenças entre os dois países “são mínimas”, à exceção da “palavra crise”. “Antigamente tínhamos um problema em Espanha que eram os dez minutos estabelecidos para atender cada paciente. Em Portugal, infelizmente, devido à crise, caminhámos também nesse sentido”, rematou.