Agostinho Mendes, mais conhecido por “Melro”, tem 80 anos de vida mas ainda é dono de uma energia contagiante. Natural da freguesia de Santa Marta de Portuzelo, em Viana do Castelo, começou a dançar folclore há seis décadas e, depois de se aposentar, recusou ficar parado e passou a dedicar-se, quase em exclusivo, a esta dança tradicional. Já ensinou milhares de pessoas a dançar, de todas as faixas etárias, “dos 4 aos 80 anos”, e de várias freguesias do concelho vianense.
Foi com António Sousa Gomes, antigo presidente e criador do Grupo Folclórico de Santa Marta de Portuzelo, que começou a dançar, há cerca de sessenta anos. Admite que, quando entrou para o grupo, ninguém dava nada por ele, mas não desistiu e depressa se tornou um dos mais promissores dançarinos.
“Fui integrado no Grupo Folclórico de Santa Marta de Portuzelo como elemento, depois de um convite do Dr. Sousa Gomes, abençoada hora. No primeiro dia em que fui ao ensaio, sem perceber patavina de folclore, todos os elementos se riram, porque não dava uma para a caixa, andava lá às escuras”, confessa.
As saídas constantes do Grupo para o estrangeiro entusiasmaram-no, fazendo com que Agostinho “Melro” ganhasse cada vez mais brio de pertencer a um dos grupos mais afamados da região. “Entrei para o Grupo de Folclore em fevereiro de 1955. Em março, o presidente Dr. Sousa Gomes virou-se para nós e disse que tínhamos uma saída para França, a Cannes. (…) Ele fez o favor de me levar também a França, apesar de não ser dos melhores do grupo. Fiquei muito contente com esse convite, gozei à grande e à francesa”, conta.
O amor pelo grupo onde se iniciou, e ao qual pertenceu durante 26 anos, foi crescendo, assim como o reconhecimento internacional do Grupo Folclórico de Santa Marta de Portuzelo. “Tinha duas coisas que era o que mais adorava na vida: os meus pais e o Grupo de Santa Marta de Portuzelo. O grupo viajava muito, graças a Deus, era o grupo que viajava mais. (…) Não perdi uma saída ao estrangeiro. Com o rancho de Santa Marta, fui à Alemanha, França, Inglaterra, Bélgica, Holanda, Brasil, Espanha de lés a lés, Portugal também de lés a lés”, explica.
Apesar de ter começado a dançar tarde, já com vinte anos, descobriu rapidamente que tinha um dom natural para ensinar.
“Tinha um dom para ensinar”, garante, pelo que ganhou rapidamente um lugar de destaque no grupo de Santa Marta. “Mandava-os alinhar, levantar os braços, olhar para o público e sorrir”, conta, tornando-se assim o braço direito de Sousa Gomes.
Agostinho “Melro” foi até cartaz da Romaria D’Agonia em 1959, com Rosa Rabeca, numa imagem onde aparecia a dançar, homenageando assim as tradições do Alto Minho.
Quando se reformou, aproveitou os tempos livres para começar a dar aulas de folclore de forma regular, ensinando pessoas de todas as idades, “dos 4 aos 80 anos”.
“Saí do Grupo Folclórico de Santa Marta de Portuzelo e um colega de trabalho, de Castelo de Neiva, pediu-me para ajudar a formar um grupo no Castelo. Eu disse que sim, mas disse que não levava músicas e danças de Santa Marta. (…) Chegámos lá, as pessoas estavam à minha espera, fiz a seleção, vi o que cada um conseguia fazer, um homenzinho começou a tocar, comecei a fazer a dança, agora vira para a esquerda, direita, frente, trás, e assim se fez o Malhão do Castelo”, explica.
Entretanto, outros convites começaram a surgir, passou por Lanheses, Geraz do Lima, Chafé, Outeiro, Vila Nova de Anha, Deão, Vila Praia de Âncora, e até recebeu um convite para preparar duas danças na Universidade de Coimbra, para ajudar uma estudante, filha de um colega.
Começou entretanto a dar aulas aos mais pequenos na Escola de Samonde, por sugestão da mãe de uma das crianças. “Que alegria, foi o maior prazer que eu tive, poder ensinar os pequenos”, assume.
Depois, passou a dar aulas de folclore na Escola Primária de Santa Marta de Portuzelo, em “abençoada hora”, confessa, pois foi nessa escola “que aprendeu a ler e a escrever”. Está ligado à Escola de Folclore de Santa Marta de Portuzelo há cerca de 23 anos, contando atualmente com uma média de 70 elementos.
“É melhor ensinar os pequeninos que os grandes. Os pequeninos ficam amuados mas não ficam zangados, porque uma pessoa tem de gritar mais um bocadinho com eles, porque eles distraem-se. Por vezes os meninos ficam amuados, mas esquecem rápido. Os velhos, não. Ficam amuados e zangados, não esquecem”, diz, divertido.
“Na Caridade, a ensinar os velhotes, eu mando-os para a frente, eles vão para trás, só para chatear o Agostinho. Mando-os para a esquerda, eles vão para a direita. Depois o Agostinho manda um berro, ficam zangados e vão embora”, brinca.
“Um dia que morra, que não vou estar aqui toda a vida, o maior prazer que teria era juntar todos aqueles que eu ensinei a dançar em Santa Marta de Portuzelo”, confessa de forma emocionada.