Em Viana do Castelo, este sábado, realizou-se a primeira “The Street Store”, uma loja de rua que pretendia promover o “dar e receber”. Numa iniciativa onde o dinheiro não era permitido, os vianenses tiveram oportunidade de levar para casa aquilo de que mais necessitavam. Ao longo do dia, o parque de estacionamento junto ao Mercado Municipal da cidade serviu de “loja” com roupa, calçado, acessórios, roupa de cama, brinquedos e utilidades diversas, numa iniciativa promovida pela associação Metamorphys.
Mafalda Ribeiro, diretora da associação promotora desta Loja de Rua, confirmou à Geice que “o impacto está a ser muito positivo”, a meio da manhã. “Estamos a receber imensas pessoas, as pessoas estão a levar e a trazer muitas coisas, pelo que o objetivo inicial está a ser cumprido”, realçou.
Depois do sucesso desta primeira edição, o objetivo é poder repetir o projeto. “Nós gostávamos de, daqui a alguns meses, poder organizar uma nova Street Store, com outras coisas, se calhar para o Verão, a pensar noutra estação”, explicou, pretendendo quebra “preconceitos e a pobreza envergonhada”.
Os 15 utentes do Centro de Acolhimento Temporário (CAT) da Metamorphys ajudaram a promover este evento. Rui Oliveira já dormiu quatro noites seguidas na rua e é atualmente utente no “Casulo” da associação sediada na Areosa. Desde dia 1 de junho que é utente da casa-abrigo, onde se encontra a fazer um tratamento contra um vício. Anda a tirar formação de operador agrícola e garante que “está a conseguir” dar a volta por cima a uma fase mais complicada da sua vida.
“Se me ajudarem, também gosto de ajudar as pessoas que precisam”, admitiu, não poupando elogios à associação vianense. “Ajudei na preparação de tudo isto. Acho bem, estou a gostar de cá estar”, contou.
Maria de Fátima soube desta Loja de Rua através da rede social Facebook e veio da freguesia de Barroselas para poder “dar e levar” artigos variados. “As pessoas, muitas vezes, têm coisas em casa que não utilizam. No meu caso, trouxe um saco de roupa de criança. Assim podemos trocar, levamos aquilo que nos faz falta – escusamos de estar a comprar – e aliviamos aquilo que temos arrumado em casa e que pode dar jeito para outras pessoas”, esclareceu. “Trouxe roupa pequenina, para bebés entre os 18 e os 24 meses, e vou levar roupa para 5/6 anos, para os meus netos usarem”, explicou.
Também Maria Martins, de 57 anos, e o marido, marcaram presença nesta loja de rua. “Achamos que é muito importante, até para pessoas que não têm possibilidades de comprar”, admitiu. “Cada vez há mais necessidade e parece-me importante a realização desta feirinha”, reforçou a vianense, que ainda trabalha mas que reconhece que “a vida não está fácil”. Foi à “The Street Store” procurar “agasalhos” para o tempo frio, pois o facto de ter tido o marido no desemprego “muito tempo” não permite “comprar muita coisa”.“Há pessoas que têm muito preconceito, mas eu não tenho. Compro muitas roupas usadas e roupa na feira”, admitu.
Também o marido João, aos 57 anos de idade, diz que esta é uma “ocasião para trocar as coisas, em vez de se desvalorizar”. “Algumas pessoas deitam fora roupa que está praticamente nova e, por isso, claro que este evento é útil”, assume, dizendo que para quem está desempregado este tipo de eventos são muito úteis. “É uma maneira de reciclar aquilo que, às vezes, deitamos fora, e que outros podem ter necessidade de utilizar”, reforçou.
O conceito “The Street Store” foi introduzido em Portugal no mês de outubro e reajustado pela Methamorphys com o objetivo de dotar os utentes da instituição de competências para os ajudar a construir um novo projeto de vida.