Um estudo da Escola de Arquitetura da Universidade do Minho sugere mais abertura do Estado e das autarquias relativamente às taxas do espaço ocupado pelos circos. Propõe ainda às companhias circenses a melhoria da sua imagem, a quebra de barreiras entre os espaços público e privado do circo e a inserção de elementos naturais no interior do chapitô. Este é um dos raros trabalhos dedicados à localização “desprezada” dos circos, refere o autor Tomé Capa.“O fascinante do circo é esta estrutura viva, enquanto equipamento e coletivo, que leva arte e aprendizagem a todas as terras, muitas delas isoladas”, nota Tomé Capa, que defendeu a tese de mestrado “O circo em cada lugar: um lugar para o circo”. O autor analisou este meio nómada na sua prática e história e elaborou depois um manual de instruções para a instalação de um circo, com vários exemplos reais. A lista foca aspetos como a inserção do circo na malha urbana, a topografia do terreno, os elementos paisagísticos, o vento, a disposição eficaz de veículos e equipamentos, o acesso a luz e água potável ou a serventia automóvel e pedonal para artistas e público. A tese idealizou ainda um lugar perfeito do circo, incluindo nomeadamente vegetação rasteira, arvoredo e rio próximo para facilitar a estadia do acampamento e dos animais. O jovem arquiteto definiu, por fim, novos modos de apropriação desse tipo de lugares. Para Tomé Capa, “há uma ligação evidente” entre arquitetura e circo ao nível da sua organização espacial, dos mecanismos estruturais de (des)montagem e da sua inserção na paisagem ou no espaço público. Contudo, é em simultâneo uma “construção sem autor-arquiteto”, isto é, adequa-se às necessidades do quotidiano, a partir do conhecimento empírico das equipas circenses, que são gerações sucessivas da mesma família a viverem apenas desta ocupação. “O circo modifica-se constantemente tendo em conta cada lugar, nas suas formas de apropriação estruturais, compositivas, funcionais e urbanas. Adapta-se às condições do terreno do modo mais prático possível, sem base teórica, valorizando ainda certas preocupações ligadas à comodidade, operacionalidade, mas também à sua propaganda e exposição ao público”, elucida. O investigador quis estudar os locais do “maior espetáculo do mundo” para dar novas pistas que ajudem a contrariar as perdas recentes de público e de reconhecimento desta tribo, além de contribuir para se voltar a surpreender os espectadores. Isto sucede numa fase de forte concorrência ao nível das ofertas de lazer e da massificação dos ecrãs e dos conteúdos digitais na sociedade.