Depois de encerrado o período de discussão pública do Programa Estratégico de Reabilitação Urbana, a concelhia do PSD de Viana do Castelo fez uma conferência de imprensa onde criticou duramente o documento. Marques Franco, vereador na autarquia vianense e arquiteto de profissão, referiu até que descobriram “que foi contratada uma empresa por 11.500 euros para fazer o novo programa-base do Mercado Municipal”. O programa-base, explicou, “é basicamente o dono da obra a indicar ao projetista aquilo que quer, quantas peixarias, quantos talhos, por exemplo”. “Foi contratada uma empresa de fora de Viana, que não conhece as nossas caraterísticas, quem compra e quem vende, para fazer este trabalho. Claro que isto vai ser ‘chapa 5’ e vai dar asneira”, indicou o arquiteto, assegurando que “foram contratar uns consultores para fazer um texto que demora uma tarde a fazer”.
“Estudei o mercado e reparei que começa tudo a preparar-se às 4 horas da manhã. Não imaginam a logística em termos de camiões e que são necessários para abastecer o mercado. Transportar tudo isso para o centro histórico, hoje em dia, é um desastre. Não ter estacionamento no mercado, hoje em dia, é incomportável”, indicou o vereador do PSD.
“A logística do mercado, hoje em dia, é completamente diferente. Hoje, quem vende e quem compra tem perfis completamente diferentes. Dando um exemplo, há quinze anos atrás a minha mãe ia de carrinho ao mercado. Hoje, a minha mulher não vai. Se não tiver as mesmas condições das grandes superfícies, não vai andar a pensar onde vai poder estacionar e quanto vai pagar para estacionar. Limita-se a ir à grande superfície, pega num carrinho e compra lá”, referiu ainda.
“Não podemos comprar um programa fora ‘só porque sim’. Temos de pensar um programa para as especificidades dos vianenses”, reforçou. “Esta gente que está na Câmara não sabe por onde se lhe pega, não tem conhecimento. Os quinze arquitetos que estão na Câmara estão parados há lá sei quantos anos. Todos os meses se contratam trabalhos de arquitetura fora”, lamentou o responsável. Marques Franco acrescentou que “se fôssemos nós, repensávamos toda a cidade”. Para o arquiteto, o plano deveria incluir a criação de novas “entradas e saídas na cidade”, a reestruturação “total” do trânsito e a criação de estacionamento para moradores.
Ana Palhares, líder da concelhia do PSD, indicou que o partido “não está de acordo com o conteúdo global do Plano Estratégico de Desenvolvimento Urbano proposto por não identificar os principais problemas e prioridades do meio urbano”. “Tal significa que estamos perante falhas graves na avaliação dos diagnósticos e, consequentemente, as soluções que procuram encontrar-se são desadequadas no tempo e no espaço”, referiu ainda. “As intervenções no espaço público, ao longo dos últimos 15 anos, não têm trazido o resultado esperado. Não têm trazido resultados porque partem de ideias avulsas”, criticou a responsável. “Dando um exemplo, recentemente assistimos à reabilitação do Largo Vasco da Gama. Ficou realmente muito bonito, mas passamos lá e não vemos movimento, um restaurante ou um bar. Não vemos lá ninguém”, lamentou a social-democrata. “Tudo isto faz com que tenhamos uma zona história perfeitamente desertificada, com uma maioria de população acima dos 65 anos, e um tecido comercial completamente devastado por falta de movimento”, referiu, indicando a “falta de mobilidade” como um dos graves problemas da cidade.
Marques Franco disse ainda que “a Área de Reabilitação Urbana – ARU, é uma mão cheia de nada, não há uma real noção de desenvolvimento e uma ideia de cidade”. “Curiosamente, na ARU não há uma única linha sobre trânsito, sobre estacionamento, sobre qualquer estratégia que fixe novas pessoas e famílias na cidade. Não fazem a mínima ideia de como isso se faz”, acrescentou o arquiteto. Ana Palhares refere ainda que a ARU assume uma previsão de 13,5 milhões de euros para investimento público e 53 milhões de euros de investimento privado, mas afirma que este é “um número perfeitamente aleatório, que não está sustentado em absolutamente nada”. “Foi um número bonitinho que arranjaram, mas que não tem credibilidade”, refere a líder da concelhia.