A peça de teatro “Anjo Branco” estreou esta quarta-feira, depois de meses de trabalho, a bordo do navio Gil Eannes, em Viana do Castelo. “Anjo Branco” desenrola-se ao longo de cinco cenas, que utilizam como palco diferentes espaços do navio-museu Gil Eannes e resulta de um trabalho do Centro Dramático de Viana em parceria com as oficinas de teatro amador da companhia.
Elisabete Pinto, da companhia profissional de teatro, explicou que o projeto começou em outubro, no âmbito do projeto “Comunidade” do Teatro do Noroeste – Centro Dramático de Viana, reunindo as oficinas ATIVAjúnior, ATIVAsénior e Enquanto Navegávamos – ex-trabalhadores dos Estaleiros Navais de Viana do Castelo, contando com 46 atores.
“Cada espetáculo é feito cinco vezes, em simultâneo, para que as 125 pessoas que sobem a bordo consigam ver tudo. De cada vez, cada parte da representação é apresentada a um grupo de 25 pessoas, que vão rodando”, explicou Elisabete Pinto, explicando que este “Anjo Branco” vive “a história dos pescadores e das suas famílias”.
A representação inicia-se no exterior do navio e ao longo da representação o público é convidado a entrar no navio, explorando os diferentes espaços e assistindo à peça. O espetáculo passa pela sala de jantar dos oficiais, pela cozinha, pela pequena capela, pela casa das máquinas e até pela enfermaria, terminando no convés da proa do navio.
Para entrarem no navio, os espetadores, tendo em conta que vão subir a bordo de um navio-hospital, vão passar pela “triagem” e receber uma pulseira colorida, em função da “gravidade” do seu “problema”, como explicou Elisabete Pinto. Estas pulseiras são um substituto original dos bilhetes de teatro e pretendem organizar as pessoas por cores e grupos.
José Maria Costa, autarca local, marcou presença nesta primeira apresentação da peça “Anjo Branco”, considerando que “é um projeto muito interessante e que vai relembrar a importância que o navio Gil Eannes teve na pesca do bacalhau, não só para Viana do Castelo mas também para o país”. O responsável destacou a forma cuidadosa como toda a peça foi preparada, “com muito envolvimento da comunidade e das associações, com testemunhos e com recurso a pessoas que ainda tiveram participação neste navio”. Com este evento, considera o socialista, “vamos relembrar a importância que este navio teve ao ser o anjo branco, porque era como um bálsamo, curava e tratava as pessoas, levando também mantimentos e informações das famílias dos pescadores”.
“Esta é também a nossa forma singela de homenagear todos os homens e mulheres que fazem de uma vida tão árdua o seu ganha-pão, para benefício de todos nós”, vaticinou o autarca. “O navio Gil Eannes está a cumprir a sua função, a ser uma referência, a servir de testemunho e a relembrar histórias e percursos de vida de muitas pessoas que passaram imenso e que tiveram um ombro amigo neste navio, que era o anjo branco de todos eles”, frisou o presidente.
Maria Antonieta Rodrigues, de 59 anos de idade, é uma das atrizes amadoras que faz parte desta peça teatral. Entrou para o teatro “levada por uma amiga, para fazer companhia”, porque não se via envolvida no teatro. No entanto, apaixonou-se por esta arte há já 4 anos e agora “quer sempre mais”. Nesta peça, faz parte do elenco da cozinha e também “um solo de uma carta de amor a Gil Eannes”, que escreveu.
Tal como anunciado, “Anjo Branco” tem por base a obra do dramaturgo Bernardo Santareno, que foi médico no navio Gil Eannes no ano de 1958, tendo deixado escrito que foi no navio produzido pelos Estaleiros Navais de Viana do Castelo que fez as anotações que lhe permitiram terminar a obra literária “Nos mares do fim do Mundo” e a peça “O Lugre”. Além dos textos do dramaturgo, a peça de teatro utiliza depoimentos e histórias do navio, que agora foram recuperadas.
A representação será novamente apresentada a bordo do navio Gil Eannes nos dias 22, 28 e 29 de maio, sempre às 16 horas, tendo uma duração estimada de duas horas de espetáculo.
Imagens: Sónia Silva Sá