Nesta altura em que os preparativos para o Natal se começam a apressar, a GEICE está a investigar como os vianenses o vão celebrar. Depois de ter perguntado à população o que eles achavam sobre a época, desta vez a GEICE foi ao mercado municipal de Viana e à secção de frutas e legumes falar com os comerciantes para tentar descobrir o que vai estar nas mesas durante a ceia natalícia. Desde vendedores de legumes, passando por talhos e peixarias, a GEICE foi à procura de informações, não só sobre as compras específicas dos clientes, mas também sobre como tem corrido o comércio nesta altura festiva em comparação com o resto do ano.
A verdade é que o resultado varia muito de comerciante para comerciante. Os que têm espaços maiores e regulares têm visto o seu negócio correr de forma normal, ou até com um ligeiro aumento em relação ao que é habitual, mas os que têm banca mais pequena ou menos bem localizada revelam sofrer bastante. Muitos apontam a cada vez maior presença de grandes superfícies no concelho como uma das razões do negócio estar em baixa.
Mário Pontes, feirante há 35 anos, é um dos comerciantes que tem tido mais sorte. Tem clientes habituais e a sua banca bem estabelecida. Segundo o próprio, “todos os legumes” se têm vendido bem, e destacou “alface, coração e penca”, como sendo os itens mais populares para o Natal.
Por seu lado, Rosa Cruz, igualmente mercante de frutas e legumes, tem vendido mais “batatas, cebolas, alhos secos”. Além destes, deixou uma nota especial para as nozes e jerimus (abóbora), que têm sido alvo de muita procura. Estes últimos costumam ser usados para realizar os “bolinhos de jerimu”, uma sobremesa típica de Viana do Castelo.
Comerciante de quinta geração, Maria de Fátima tem tido a sorte de manter a sua clientela dentro da normalidade. A própria explica que, enquanto descendente de uma linhagem de feirantes, a sua clientela também tem mantido a confiança nos produtos familiares de geração em geração, o que lhe facilita o negócio. Penca, grelos, nabos são os itens que, com a ceia de Natal a aproximar-se a passos largos, se começam a vender mais.
No que toca a carnes, Olívia Lima, responsável de uma churrasqueira, confirma ter recebido “muitas encomendas de peru”, outro dos pratos tradicionais da época, para a semana de Natal. Afirmou não ter recebido pedidos fora do normal para a época, mas também explicou que grande parte do que tem conseguido vender até agora têm sido sobretudo itens de consumo imediato, “coisas para o dia”, como o frango assado.
O comércio de Olívia tem funcionado bem, e foi, junto com Mário Pontes, das poucas comerciantes que sentiu um ligeiro aumento no negócio nesta altura. No entanto, “menos do que antigamente”, sublinhou. É precisamente em relação aos gastos dos vianenses que a comerciante mais tem sentido a quebra. “As pessoas têm comprado pouco”, referiu, indicando ser algo cada vez mais recorrente. “Estão sempre a gastar menos”, desabafou.
Por seu lado, o talhante António Araújo revelou ter conseguido vender “um pouco de tudo”, mas que no geral tem estado “tudo parado”. Considera-se “sortudo”, tendo em conta que nesta altura os portugueses dão mais importância ao peixe, nomeadamente o bacalhau. “Aqui no nosso ramo é o normal”, admitiu.
No caso do peixe, este tem tido um comércio relativamente bom, segundo Josefa Mendes. Peixeira há 66 anos, revelou que o que tem mais vendido nas últimas feiras tem sido “polvo, congro, pescada e badejo”. A comerciante não vende bacalhau, mas afirmou que ainda assim tem conseguido clientes. No entanto, ela também tem sentido uma alteração nos hábitos de consumo dos vianenses. Explicou que vários clientes seus têm optado por produtos mais baratos, como as sardinhas ou as fanecas, em vez de itens mais tradicionais da época.
Os últimos anos têm sido mais difíceis para os feirantes. Os fatores são vários, mas quase todos interligados. A crise económica veio, em primeiro lugar, reduzir o poder de compra dos portugueses o que teve como consequência uma mudança nos hábitos de compra. Além de optarem cada vez mais por itens mais baratos, têm sobretudo comprado em menor quantidade.
Outro dos fatores é a multiplicação de grandes superfícies, que oferecem preços com os quais os feirantes, em muitos casos, não conseguem competir. Estes têm vindo a agravar a descida do número de pessoas que se dirigem aos mercados tradicionais para realizar as suas compras alimentares.
Ainda assim, apesar de todas estas dificuldades, o comércio tradicional tem conseguido sobreviver e existir do seu próprio pé. Os feirantes, com um caráter resiliente, mantêm os seus negócios: enquanto houver clientes, haverá mercado. No que depender destes feirantes, nada faltará na mesa dos vianenses para a ceia de Natal.