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08 Dez 2017

REPORTAGEM / Cultura: Ermo e :papercutz aquecem Viana em noite chuvosa

Geice FM

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O clima é sempre um fator determinante para as pessoas ao decidirem se preferem sair e tomar parte em eventos ou ficar no quente das […]

O clima é sempre um fator determinante para as pessoas ao decidirem se preferem sair e tomar parte em eventos ou ficar no quente das suas casas e descansar. Na noite desta passada quinta-feira, véspera de feriado, os céus não estavam de todo inclinados a que as pessoas saíssem. A chuva caía em largas quantidades e o frio que se tem vindo a sentir nos últimos dias manteve-se inalterável.

Ainda assim, no Cave Avenida, os concertos que estavam marcados para aquele serão iriam seguir avante, com chuva, vento e frio. Os :papercutz, que tinham passado durante a tarde pelo estúdio da Rádio GEICE para conversar sobre o seu novo trabalho, “King Ruiner”, estavam programados para atuarem antes de outra dupla portuguesa, os Ermo. [Entrevista aqui.]

Um pouco depois da hora marcada para iniciarem-se as hostes, o pequeno público que se decidiu a enfrentar as intempéries para fazerem parte do espetáculo amontoou-se no espaço aberto em frente ao palco. Catarina Miranda e Bruno Miguel rapidamente puseram-se nos seus lugares e, depois de uma pequena introdução, começaram a fazer o que melhor sabem fazer: música.

O ambiente sempre etéreo característico dos:papercutz rapidamente envolveu a sala, e embora o público fosse pequeno, os corpos aí presentes se foram soltando lentamente, ao ritmo da música. Um concerto dos:papercutz passa sempre por uma experiência peculiar. O uso forte de distorções, um reverb acentuado são simples exemplos da sonoridade oferecida pela dupla, fortemente baseada na eletrónica. A capacidade de vocalização de Catarina Miranda, particularmente nos agudos, chega a ser impressionante, mas não é figura de destaque. Como foi dito na entrevista, a voz é usada como apenas mais um instrumento, uma parte de um todo.

É sempre interessante ver a alteração psicológica em Catarina Miranda quando sobe ao palco. A tal arte da performance, tema debatido durante a entrevista, é algo inato na vocalista. Ela deixa-se envolver pela música que ela própria e Bruno Miguel elaboraram, e imerge-se completamente no universo que ambos criaram. Em vez de abrirem o seu mundo ao público, é este que tem que forçar a entrada e tentar perceber onde a dupla quer os levar. Recetivo ao apelo, o público foi-se deixando envolver pelos temas novos de “King Ruiner”. Ora ritmado, ora suave, a osmose criada levou o público por terras sonoras raramente visitadas, cujas influências vêm de bem longe.

O concerto, que se afastou definitivamente da fase anterior, mais sombria, da carreira dos :papercutz não deixou de ter acenos aos trabalhos já editados, como “Where Beasts Die”, que fechou a atuação.

Pouco tempo depois, a misteriosa dupla Ermo preparou-se para a sua parte do evento. O público, já mais composto por algumas chegadas tardias, esperava ansiosamente por aquele que era o prato principal da noite. De cara tapada, como tem vindo a ser hábito, Bernardo e António posicionaram-se face a face e rapidamente puseram-se a trabalhar.

A segunda dupla da noite veio a Viana apresentar “Lo-Fi Moda”, o seu trabalho mais recente que tem vindo a fazer furor nas comunidades adeptas de sons mais alternativos, e que os levou em digressão nos últimos meses, nomeadamente em eventos de maior dimensão como o Vodafone Mexefest, durante o mês de novembro.

Composto por uma mescla sonora do que tem vindo a ser feito na eletrónica alternativa internacional, “diferente” parece uma boa palavra para classificar o trabalho dos Ermo. Os artistas, em fase de crescimento, têm ainda a particularidade de cantarem em português, o que não tem sido habitual no panorama alternativo nacional.

Munidos apenas dos seus portáteis, um misturador e um sampler, conseguem provar que o uso de um par de instrumentos digitais chega para criarem não só sons como também universos próprios. É uma eletrónica “cuidadosamente desordenada”, que vai buscar elementos que em nada dariam a entender serem misturados e conseguem fazê-los funcionar.

Desde elementos que lembram o “trap” a partes sonoras que lembram os Death Grips, o uso de autotune e vocalizações que mais facilmente seriam ouvidas no pop português do que num álbum eletrónico, o trabalho dos Ermo tem a justo título sido alvo de uma curiosidade mediática impressionante.

Por seu lado, o público está completamente envolvido no concerto. Era fácil ver que a dupla misteriosa eram realmente quem boa parte do público presente tinha vindo ver. Enquanto a atuação passeia pelos êxitos de “Lo-Fi Moda”, os corpos foram-se soltando, os movimentos foram-se diversificando e, quando se aproxima o clímax do concerto, o som pára.

Devido a problemas técnicos que tinham vindo a ser incómodo para os artistas ao longo do concerto, foi impossível à dupla terminar o seu concerto como queriam. Para o mérito dos artistas e dos técnicos de som, foram feitas várias tentativas de reiniciar o concerto. No entanto, depois de longos minutos sem conseguirem resultados e apercebendo-se que já havia público a ir embora, deu-se a decisão de dar o concerto por terminado.

DJ Set :papercutz no Centro Histórico.

A última parte da noite não seria mais no Cave Avenida, mas sim no Centro Histórico. O DJ Set de :papercutz, diferente do trabalho realizado pela dupla em ambiente de concerto, pretendia ser uma experiência diferente naquele espaço.

Pouco depois das 03h da madrugada, Bruno e Catarina tomaram as rédeas da noite, num Centro Histórico que apresentava casa cheia. Produzindo um set em crescendo de forma lenta e progressiva, os corpos primeiros estranharam e depois entranharam a sonoridade diferente que os :papercutz tinham para oferecer.

Tema falado na conversa entre a banda e a GEICE, o som transmitido pelo DJ Set é genuinamente diferente do resto do trabalho da banda, tanto que parecem outras pessoas. O som, mais pesado eletronicamente e definitivamente menos etéreo ou ambiental, ficou orientado para um lado mais tribal, mais urbano. É uma eletrónica vastamente dependente de beats de percussão, o marco do universo de dança mais tradicional e embora as sonoridades variem, o ritmo mantém-se sempre igual.

O set tanto recorda ritmos africanos como a House Industrial e progressista. É completamente adaptado ao ambiente onde se insere e impressiona a versatilidade de uma dupla que consegue passar de um registo concerto para um de clubbing com pouco mais de uma hora de intervalo.

Por seu lado, o público vai-se soltando com o passar dos ritmos e dos sons, e enquanto nas primeiras horas da madrugada alguns decidem regressar às suas casas, os que ficam vão intensificando o passo, por mais algumas horas.

Facto é que a cidade começa a (re)abrir-se a universos diferentes dos que têm sido habituais, como foi o caso com a atuação dos Graveyard no mês passado, dos Ermo e :papercutz esta quinta-feira e de Benjamin Clementine, no próximo ano. A receção por parte dos vianenses tem sido positiva, embora lenta. São as dores de crescimento de uma cidade que já teve uma cultura alternativa no passado, mas que também a viu desaparecer com a crise económica. A geração atual não a viu e, por isso, está a vivenciar a sua primeira revolução cultural da cidade. Perto da dupla de DJs, pode-se ouvir um jovem a afirmar que “está a ser uma noite fixe”. A ver como correrá o futuro.

 

Ouça a entrevista: https://www37.zippyshare.com/v/LRGFU6kc/file.html

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