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27 Mar 2018

Reportagem: Excentricidade desinibida de Benjamin Clementine conquista Viana do Castelo

Pedro Xavier

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Uns minutos antes das 22 horas na noite desta segunda-feira, o Centro Cultural de Viana do Castelo já estava ao rubro enquanto o público presente […]

Uns minutos antes das 22 horas na noite desta segunda-feira, o Centro Cultural de Viana do Castelo já estava ao rubro enquanto o público presente aguardava o homem da noite. Com bilhetes esgotados desde dezembro, apenas alguns dias depois de terem sido postos à venda, já se conseguia antever que a atuação de Benjamin Clementine ia ter casa cheia.  Os presentes são oriundos de muitos sítios encontrando-se na multidão gente do Porto, de Braga, e até de Espanha.  No palco, manequins ‘grávidas’, de crianças e de formas estranhas já deixavam antever que o concerto seria tudo menos tradicional. De facto, o britânico tem fama de ter um caráter particularmente volátil e uma mente, no mínimo, peculiar.

Pouco tempo depois da hora, foi com um Benjamin Clementine tímido que entoaram os leves sons de Farewell Sonata que se deu início ao espetáculo.  Usa-se espetáculo porque a exibição transcende a definição de um simples ‘concerto’. Todos vestidos da mesma forma, o artista e os músicos que o acompanham entram em palco com uma encenação planeada e executada ao pormenor. Mexem nos manequins, rodeiam os instrumentos, como quem se prepara para enfrentar uma fera. Sem coincidência, mal termina o tema de introdução, o conjunto arranca os acordes de God Save The Jungle, com um enfático “Welcome to the Jungle” de Clementine em direção à plateia.

As expetativas eram altas, visto que vários fãs realçaram os facto de Clementine sentir-se, alegadamente, mais confortável em espaço interior e intimista, conseguindo assim soltar-se e desinibir-se mais facilmente. Foi precisamente o que aconteceu. Encadeando ritmos ecléticos mas próprios, característicos da música que interpreta, o objetivo de Clementine estava bem definido: conseguir ganhar o entusiasmo do público o mais rapidamente possível. Para tal, usou um repertório forte do arsenal de que dispõe, que incluiu passagens por temas de destaque como I Won’t Complain e Phantom of Aleppoville.

Todo o espetáculo de Benjamin Clementine é encenado como o contar de uma história, na qual leva o público num seguimento lógico sem nunca ter que se explicar. Esta história, embora possa parecer fictícia, é assente em temas reais. A música do britânico é tipicamente carregada de críticas e constatações sobre a sociedade, como é o caso de God Save The Jungle, que se refere à “Selva” de Calais, França, na qual estiveram centenas de refugiados bloqueados à fronteira com o Reino Unido, ou o drama de Aleppo, na Síria.

Conseguida a atenção da multidão, Clementine foi-se soltando, ficando cada vez mais extrovertido. Foi deixando referências a Portugal e Viana do Castelo em algumas músicas, levando a multidão a reações cada vez mais efusivas. Começou a interagir mais, conversar até, com a plateia. Um dos primeiros grandes momentos da noite foi em Condolence, do primeiro álbum, que se alargou por largos minutos, nos quais o artista obrigou o público a repetir o refrão com diferentes ritmos e entoações.

Aos poucos, começou a apalpar terreno, literalmente, e a aproximar-se cada vez mais dos que se encontravam frente ao palco. Isto, até ao momento onde o artista e os companheiros se soltaram definitivamente, atuando uma música inteira no meio do público, não só pela plateia em pé, mas também invadindo as bancadas sentadas do Centro Cultural de Viana do Castelo de uma ponta à outra do recinto, que lhes valeu, no final, uma enorme ovação.

Durante a atuação, Benjamin Clementine foi entoando músicas ritmadas e calmas de forma ponderada. Fez tempo para visitar temas tanto do primeiro álbum como do mais recente, como Ports of Europe, Winston Churchill’s Boy, ou Jupiter.

Perto do final, quando a encenação chegou ao apogeu, os manequins foram desmembrados pelos músicos, atirados violentamente ao chão, antes de abandonarem o palco. Momentos depois, regressaram para o tradicional “encore”, onde interpretaram temas diferentes, menos conhecidos, mas de forma mais solta, como quem já acabou o trabalho e agora só se está a divertir. Clementine foi brincando com o poderoso timbre que possui, atingindo agudos que fizeram crepitar as colunas do recinto e baixos que arrepiaram a pele. Foi prolongando o concerto com interações em bom tom, visivelmente feliz pelo sucesso junto do público vianense.

Para terminar, se a atuação começou com um “Welcome”, não é surpreendente descobrir que o músico escolheu, adequadamente, Adios para encerrar. Clementine fez o prazer durar por vários minutos antes de abandonar definitivamente o palco do Centro Cultural de Viana do Castelo, numa atuação que se aproximou das duas horas. À saída, ninguém se queixou. As pessoas que abandonaram o recinto saíram todas com um sorriso na cara, apesar da chuva que se fazia sentir.

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