O Lanço da Cruz de Cristelo-Côvo, no concelho de Valença, é todo uma animação. Nesta celebração que dura toda a tarde e boa parte da noite da segunda-feira de Páscoa, o pároco da freguesia, Eugénio Silva, leva a cruz até ao outro lado do rio Minho, para dar a beijar aos crentes de Sobrado – Torron, concelho de Tomiño, na vizinha Espanha. Na margem do rio Minho, pouco depois das 17 horas, o pároco de Cristelo-Côvo entra num barco de pesca e dirige-se até à outra margem, levando consigo a Cruz. Na viagem de regresso, vem acompanhado pelo pároco galego, que dá a beijar a cruz espanhola ao lado português.
Na margem portuguesa do rio Minho, é uma verdadeira romaria que aguarda os dois párocos. São vários grupos musicais a atuarem, que incluem gaita de foles, castanholas, bombos e tambores, numa festa de horas e horas que se estende noite dentro. Há comes e bebes e uma animação intensa, na qual crentes portugueses e peregrinos galegos exultam de alegria e boa disposição.
“Há algo que os une, há algo que prende”, realçou Eugénio Silva, pároco de Cristelo-Côvo, à GEICE. Este homem de fé sublinhou que o “símbolo é o mesmo”, pelo que “não existem barreiras linguística”. “Há um sentido de alegria por ver entrar o mesmo símbolo, o da cruz, que une de um lado e do outro”, precisou. Esta celebração está tão enraizada que o pároco brincou que, caso esta não se realize, “já não é vida” para a comunidade.
Durante a travessia solene, destaca-se uma forte conotação simbólica para os pescadores do concelho. O barco que leva o pároco é acompanhado por várias embarcações de pesca ao lado, que são benzidas durante a viagem para dar sorte para o ano que se avizinha. Em resposta, os pescadores lançam as redes ao rio e tudo o que for apanhado é entregue ao pároco de Cristelo-Côvo.
A tradição do Lanço da Cruz é uma manifestação religiosa popular muito acarinhada pelas populações de ambas margens que, ano após ano, atrai um maior número de pessoas.