Outrora, na vila C(r)asteja, o Entroido, era assim que os habitantes designavam o seu Carnaval, era uma das festas mais participativas da freguesia. Havia diversão de sábado a terça-feira, com bailes e mascarados dispersos por vários recantos da vila. Não faltava o tradicional cozido à portuguesa e doces típicos. Tiros, bombas e foguetes anunciavam a festa. Nessa altura, os Farrangalheiros saíam à rua, trajados a rigor: homens e mulheres vestiam o tradicional saiote castrejo tipicamente vermelho bordado e/ou decorado com cores garridas, as blusas e o lenço amarelo. O traje era composto pelo garruço, o objeto mais representativo do Entroido C(r)astejo: chapéus de cartão decorados com fitas e enfeites garridos que congregam uma renda que encobre o rosto dos Farrangalheiros.
No próximo dia 22, Melgaço vai recordar alguns destes momentos. A partir das 17h00, vários grupos desfilarão pelas ruas de Melgaço rumo ao Largo Hermenegildo Solheiro, mostrando as suas máscaras e fantasias, onde o principal critério de avaliação será a “Identidade Cultural da Região (Melgaço e territórios transfronteiriços próximos)”, numa lógica de promoção da identidade territorial e da cultura local.
O cortejo finda com o concurso “Mascarados”, mas o ponto alto da festa será a queima do Entrudo, o boneco vestido de roupas velhas: o ato representa a expulsão de todos os males e a purificação das mentes, mas dizem os populares que este momento simboliza também o desejo de que o inverno acabe e que a primavera comece.
A Junta de Freguesia da U.F. de Castro Laboreiro e Lamas de Mouro, em conjunto com a Biblioteca castreja, estão a promover oficinas para ultimar os preparativos: a comunidade local, a mais idosa, ainda se recorda de todo o processo de construção dos garruços.
O ENTROIDO DE CASTRO LABOREIRO
«Os Farrangalheiros percorriam os bailes, andavam nos caminhos e pelas casas. Metiam-se principalmente com as raparigas casadoiras, os mais jovens e idosos. Gozavam de impunidade total para atitudes mais atrevidas como levantar saias às mulheres ou assustar os mais novos. Havia mulheres vestidas de homens e homens vestidos de mulheres.
A indumentária era simples, roupas velhas e a cara coberta com panos e rendas. Podiam usar chapéus, lenços ou capas a cobrir a cabeça. Nos últimos tempos apareceram os garruços que são chapéus de cartão decorados com fitas e enfeites garridos, usados principalmente pelas mulheres. Na mão podiam levar um pau, um animal ou outro elemento provocador.
Na segunda metade do século XX, em alguns lugares, ainda era queimado o Entroido. Acontecia no último dia, terça-feira: o boneco de palha, vestido com roupas velhas, era queimado em local alto para ser visto pelos lugares vizinhos.
Todos queriam ter o melhor Entroido. São conhecidas as disputas do lugar da Açoreira e Podre tendo como adversários Barreiro, João Alvo e Ramisqueira. Dos últimos Entroidos genuínos destacam-se os de Corveira, Bico e Cailheiras. Em 1979, o cineasta Ricardo Costa deixou singelo testemunho do último lugar no documentário, Homem Montanhês.
Possivelmente a festa sofreu influências galegas e transmontanas, locais onde os homens trabalharam durante séculos.»