A mostra que agora é exibida reúne a totalidade dos desenhos adquiridos ao artista em 1937 e revelam não só a personalidade artística do autor, mas a relação privilegiada entre o património e o desenho, com preciosos registos sobre a arte, os monumentos históricos e o quotidiano local. Tornam-se assim documentos importantes no estudo da arquitetura e espaços urbanos da cidade durante o segundo quartel do século XIX.
George Kreskentevich Loukomski (1884-1952) nasceu em 1884, na cidade russa de Kaluga, no seio de uma família aristocrata. Frequentou arquitetura na Escola de Arte de Kazan, entre 1901 e 1903, e na Academia Imperial de Artes de São Petersburgo, tendo concluído a sua formação de arquiteto em 1915.
No decorrer da sua formação artística, na primeira década do século XX, viajou pela Rússia e pela Europa, passando por França, Itália, Suíça, Alemanha e Polónia, para estudar arquitetura e a arte produzida nas capitais europeias. No período em que viveu na Rússia, desempenhou relevantes funções na área do património artístico, sendo conservador de museus, em São Petersburgo, e curador de coleções de arte da Corte Imperial Russa. Foi ainda membro da Academia Russa de Belas Artes e participou em exposições individuais e coletivas nos salões da União de Artistas Russos.
Após a Revolução Russa (1917), descontente com o rumo dado à administração do património histórico e artístico, viajou para a Europa Ocidental. Entre 1921 e 1925 G. Loukomski viveu em Berlim. Seguiu para Paris e, em 1925, o seu trabalho artístico
foi reconhecido pela Academia Francesa de Belas Artes. A partir de 1940, estabeleceu-se em Londres, onde continuou a sua vocação de historiador e crítico de arte em revistas da especialidade e como artista plástico, principalmente na área do desenho, de obras arquitetónicas.
Em Portugal, George Loukomski participou na primeira Missão Estética de Férias (MEF), na cidade de Tomar, a 08 de agosto, a convite do diretor da Missão, o arquiteto Raul Lino. Loukomski e o pintor Joaquim Lopes integraram a “Missão” como “agregados”, previsto no regulamento, por serem artistas e académicos correspondentes da Academia Nacional de Belas Artes, criada em 1932. O diretor da Missão justifica a presença de Loukomski em Tomar “como conhecedor por experiência própria de instituições semelhantes em Madrid, Granada e Londres”.
A sua presença em Viana do Castelo ocorre durante o mês de julho de 1937, conforme registado nos seus desenhos, portanto anterior à sua estadia em Tomar. Em Viana, o artista/arquiteto realizou muitos desenhos sobre antigos edifícios e motivos arquitetónicos, que ilustram bem a sua formação artística e capacidade criativa.
Esses desenhos foram colocados em exposição realizada, no final do mês de julho de 1937, na sede da Assembleia Vianense, espaço de convívio, situado no edifício dos Sotto Maior, à Praça da República.
Na ata da Câmara Municipal de Viana de 28 de julho, e poucos dias após a exposição, o Presidente do Executivo Camarário, José António de Matos propõe a aquisição dos trabalhos de George, no total de 59 desenhos, por dez mil escudos e reconhece que o artista “revelou-nos o distinto arquiteto pormenores e singularidades do nosso património monumental e artístico em que ainda não tinham reparado tanto os vianenses como os estranhos”, refere ainda, (…) “possuindo esta Câmara um museu, natural é que ali se recolhessem, pelo menos, alguns desses desenhos de tamanho valor evocativo”. O museu referido era à época designado de Arte Regional, hoje Museu de Artes Decorativas, ao qual este núcleo de desenhos pertence.