“O surto [de covid-19] está a alastrar em alguns lugares, por pessoas que vieram de férias e perderam o amor à vida (…). O amor à vida torna a vida um amor de vida”, afirmou Anacleto Oliveira perante as pessoas que assistiam à homilia realizada no espaço exterior da igreja da padroeira dos pescadores, no Campo d’Agonia, em Viana do Castelo.
Anacleto Oliveira lembrou aos presentes que a romaria em honra da Senhora d’Agonia “nasceu” do “amor” dos pescadores “à vida, quando a sentiam a fugir nos momentos de aflição” que enfrentavam no mar.
Este ano, pela primeira vez em mais de 248 anos, por causa do surto do novo coronavírus, os números principais da Romaria d’Agonia, que começou na quarta-feira e termina no domingo, e que são habitualmente vividos nas ruas da cidade, estão a ser celebrados em formato digital, devido às restrições impostas pela pandemia de covid-19.
A missa campal em honra da padroeira dos pescadores foi exceção, mas com as limitações determinadas pelas autoridades de saúde e pela Confederação Episcopal Portuguesa relativamente às celebrações litúrgicas.
O acesso ao local, vedado e dotado de 800 cadeiras, instaladas com distanciamento, obrigava ao uso de máscara, e contou com o acompanhamento de agentes da PSP, apoiados por elementos da Confraria de Nossa Senhora d’Agonia e dos escuteiros a missa decorreu de forma ordeira.
No final da celebração, em declarações aos jornalistas, o presidente da Câmara de Viana do Castelo, José Maria Costa, adiantou ter ficado satisfeito com o comportamento ordeiro de quem assistiu à cerimónia, sentado nas cadeiras do recinto ou daqueles que se espalharam pelo Campo d’Agonia.
“Foi uma celebração muito bonita e sentida que cumpriu o fundamental da festa. Não se fizeram outros momentos, também importantes para a vida de uma comunidade, precisamente por amor à vida, esse valor maior”, afirmou.
Anteriormente, à Lusa, o autarca socialista estimou que o cancelamento da edição deste ano, no formato habitual, representará uma “perda direta de receita de 10 milhões de euros, sobretudo nos setores do comércio, restauração e hotelaria”.
Este ano, também não se realiza a procissão ao mar e ao rio, em honra da Senhora d’Agonia, outro dos pontos altos do programa. Aquela celebração ocorre a 20 agosto, feriado municipal. São milhares de pessoas concentradas, nas margens do rio Lima, para ver e saudar a procissão, envolvendo mais de uma centena de embarcações de pesca e de recreio.
Além da Senhora da Agonia, são ainda transportadas ao mar e ao rio as imagens da Senhora de Monserrate, de São Pedro, da Senhora dos Mares e o de São Bartolomeu dos Mártires que, desde 2015, passou a integrar a procissão.
No regresso a terra, os pescadores transportam os andores de novo à igreja de Nossa Senhora d’Agonia, situada no Campo da Agonia, passando pelas ruas da ribeira onde, durante a madrugada, foram confecionados, manualmente, os típicos tapetes de sal.
Este ano, dos sete tapetes de sal que habitualmente eram confecionados, apenas um foi montado junto à igreja, para homenagear a padroeira dos pescadores, que se uniram numa manifestação de “agradecimento e bênção”.