Em 05 de agosto de 1995, em Gotemburgo (Suécia), a atleta de Viana do Castelo venceu a prova feminina da maratona sagrando-se campeã mundial pela única vez na sua carreira e repetindo o feito de Rosa Mota, em 1987, em Roma.
Manuela Machado, que vinha de conquistar o ouro nos Campeonatos da Europa no ano anterior (Helsínquia) e a prata nos Mundiais de 1993 (Estugarda), recorda à Lusa a grande confiança que tinha na altura.
“Quando parti de Portugal para Gotemburgo, saí com a ideia de que ia ser campeã do mundo, estava completamente convencida que ia ganhar a prova. Eu queria e eu sabia que ia ser campeã do mundo. A minha forma era tal que me dava uma confiança a 100 por cento na vitória”, diz, desassombrada.
Apesar de não ter a melhor marca na maratona, Manuela Machado não deu hipóteses à concorrência, nomeadamente à romena Anuta Catuna e à italiana Ornella Ferrara, segunda e terceira classificadas, respetivamente.
“Eu até queria ter atacado mais cedo, mas a minha treinadora, a Sameiro Araújo, não deixou, mas eu queria porque as minhas pernas corriam sozinhas e estava muito forte mentalmente”, lembra.
Nas pouco mais de duas horas e 25 minutos de corrida começou por pensar no controle que tinha de fazer às adversárias, mas, depois, o foco virou-se para a vontade em “oferecer a vitórias aos portugueses”.
“Pensava ‘eu vou ganhar isto e quero dar a vitória aos portugueses, à minha família, aos meus amigos e às pessoas que trabalham comigo diariamente'”, recordou.
Elegendo essa corrida como “uma das melhores da carreira”, Manuel Machado lembra ainda o facto de ter ficado uma volta por dar na chegada ao estádio da capital sueca.
“Na partida, eu sabia que tinha de dar três voltas à pista, saía para o percurso [pela cidade] e, no regresso ao estádio, era diretamente para a meta. Só que, no início, só demos duas voltas e eu pensei que teria de dar mais uma, nas imagens vê-se eu a perguntar se terminava mesmo ali e o júri disse que sim”, conta.
A medalha ficou, naturalmente, mas a marca (2:25:39 horas) não foi homologada porque ficaram por percorrer 400 metros.
“Só no dia seguinte é que nos disseram que faltava uma volta. Mesmo com mais uma volta, batia o recorde da prova, mas pronto, nos campeonatos o que interessa é a medalha”, disse.
Pelo primeiro lugar em Gotemburgo, além da medalha, Manuela Machado trouxe outro prémio, um Mercedes.
“Sim, ainda o uso, está bem cuidado. É um carro que nunca será vendido porque, tal como as medalhas, tem um valor sentimental e não monetário”, frisa a vianense, hoje com 56 anos e que continua a correr todos os dias.