“A guitarra portuguesa está a perder as suas características”, disse à agência Lusa José Manuel Neto, que considera “necessário – e talvez este ‘workshop’ ajude -, a reforçar esses fatores diferenciadores da guitarra portuguesa, senão diluem-se e perde-se uma linguagem fadista”.
O músico que acompanha, regularmente, Camané e Mariza, entre outros fadistas, considera que, se a guitarra portuguesa perder as suas caracteríticas, torna-se “muito idêntica à guitarra clássica de 12 cordas”.
Entre essas características José Manuel Neto, de 47 anos, enumerou “os ‘gemidos’ da guitarra e os ‘trilos’, isto é, o trinar da guitarra”.
“A ideia deste ‘workshop’ é passar experiência como acompanhante para outros colegas”, disse à Lusa, referindo que “acompanhar um fadista é completamente diferente de ser solista e apresentar-se em recital”.
José Manuel Neto gravou em 1992 o seu primeiro disco, “Tears of Lisbon”, com o Huelgas Ensemble, sob a direção do maestro Paul van Nevel, e com os fadistas Beatriz da Conceição e António Rocha. Em 2009, lançou o álbum a solo “O Som da Saudade”.
Ao mesmo tempo, acrescentou o guitarrista, “não podemos tocar uma melodia que se aprendeu sempre da mesma maneira – a guitarra acompanha o fadista, com o qual estabelece um diálogo, e cada caso é um caso”.
O músico, filho da fadista Deolinda Maria, argumentou que “acompanhar Camané não tem nada a ver com acompanhar Carlos do Carmo, e isso está bem patente nas gravações”.
O ‘workshop’ de guitarra portuguesa realiza-se nos dias 04 de outubro e 07 de novembro, no Museu do Fado, em Lisboa.
Os ‘workshops’ de viola, por Carlos Manuel Proença, realizam-se também no Museu do Fado, nos dias 14 de outubro e 11 de novembro.
Carlos Manuel Proença, filho da fadista Maria Amélia Proença, tem acompanhado, além da mãe, Camané e Mísia, entre outros.
Tem também desenvolvido carreira como produtor discográfico, tendo assinado as produções, designadamente, dos álbuns de Luísa Rocha, “Uma Noite de Amor”, e de Pedro Moutinho, “O Fado em Nós”, assim como “Casa de Fado”, de Maria Emília.
Carlos Manuel Proença, de 51 anos, estudou música na Academia de Amadores de Música e, em 2006, a Casa da Imprensa entregou-lhe o Prémio Francisco Carvalhinho. Dois anos depois recebeu o Prémio Amália para o Melhor Instrumentista.
Estes são prémios detidos também por José Manuel Neto, que, em 2004, recebeu o Prémio Francisco Carvalhinho e, em 2008, o Prémio Amália/Melhor Instrumentista, a par de Proença.
“Dois dos melhores instrumentistas da atualidade” salientou à Lusa o presidente da ACFL, o guitarrista Paulo Valentim, que garantiu que, “no futuro, vão realizar-se ‘masterclasses’ de outras áreas fadistas”.