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Nacional

04 Out 2020

Ordem dos Médicos apela à vacinação para a gripe sazonal dos mais frágeis

Pedro Xavier

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O bastonário da Ordem dos Médicos (OM), Miguel Guimarães, apelou “às pessoas mais frágeis” para que se vacinem para a gripe sazonal, frisando que “de forma indireta” essa proteção tem efeitos na transmissibilidade do novo coronavírus.

“É muito importante que as pessoas mais frágeis, as pessoas de maior risco – como estão definidas e bem pela Direção-Geral da Saúde – se vacinem [para a gripe sazonal]. A vacina não é obrigatória, mas era importante que as pessoas com mais de 65 anos se vacinem”, disse Miguel Guimarães, somando aos prioritários as grávidas e os profissionais de saúde, entre outros.

O bastonário da OM sublinhou que a proteção para a gripe sazonal “de certa forma também acaba por proteger indiretamente para a SARS-CoV-2 [novo coronavírus]”.

“Se uma pessoa tiver o vírus da gripe sazonal e simultaneamente o vírus SARS-CoV-2, evidentemente que o efeito em termos lesivos das várias estruturas, nomeadamente dos pulmões, pode ser potenciado”, apontou.

Já sobre a vacinação da restante população, Miguel Guimarães disse que “é recomendável em função da conversa que cada um tenha com o seu médico assistente”.

“Isto limita a transmissão da gripe sazonal. Penso que a própria utilização de máscara e a manutenção de medidas como distanciamento social também vão ajudar”, concluiu.

Miguel Guimarães falava aos jornalistas, no Porto, no encerramento de uma sessão de apresentação de três estudos sobre a taxa de prevalência do novo coronavírus em profissionais de saúde e na população em geral.

Os estudos estão a ser levados a cabo pela Fundação Vox Populi, Fundação Manuel Viegas Guerreiro, Fundação The Claude and Sofia Marion Foundation, Fundação Álvaro Carvalho e Centro de Medicina Laboratorial Germano de Sousa.

Na apresentação de dados preliminares sobre um deles – o dedicado aos profissionais de saúde – Francisco Antunes, que foi diretor do Serviço de infecciologia do Hospital de Santa Maria e é professor jubilado da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, também defendeu a importância da vacina da gripe para grupos de risco.

“As pessoas mais vulneráveis não são apenas os idosos. São todas as pessoas com doenças que agravam a evolução da infeção por SARS-CoV-2: doenças cardiovasculares, doenças respiratórias, doenças do foro imunológico, doenças relacionadas com patologia renal, cardiovasculares, entre outras”, enumerou.

Francisco Antunes socorreu-se de um estudo brasileiro que incide nas pessoas idosas, para apontar a convicção de que a vacinação para a gripe “reduz os internamentos nas unidades de cuidados intensivos em cerca de 10%” e “reduz cerca de 20% a mortalidade associada à covid-19”, acrescentou.

“Comparativamente doentes vacinados contra a gripe e doentes não vacinados, há uma diferença substancial relativamente aos benefícios da vacina da gripe na covid-19”, frisou.

O médico infecciologista também procurou desmistificar o que se tem vindo a dizer sobre atuais e possíveis futuras vacinas para a covid-19, bem como a sua eficácia a curto e médio prazo.

“Neste momento não há nenhuma vacina [para o novo coronavírus] disponível. Há vacinas disponíveis do ponto de vista político, mas na realidade não há. Nenhuma das vacinas que estão a ser avaliadas demonstraram que de facto são vacinas seguras e eficazes”, defendeu.

O especialista referiu que “mesmo aparecendo uma vacina”, esta “terá uma eficácia relativa” que “provavelmente não será igual para todos os grupos”.

“E qual é a durabilidade da vacina? Admite-se que possa ter uma durabilidade de eficácia, isto é possa produzir imunidade protetora, até 12 ou 18 meses. Esta estimativa de proteção é muito relativa, tendo em consideração que este vírus vai continuar a circular com vacina ou sem vacina”, desenvolveu Francisco Antunes.

Lembrando que “a outra forma de conter a epidemia é a imunidade de grupo”, o especialista adiantou que “se perspetiva [referindo-se a estudos que estão a ser desenvolvidos pela comunidade cientifica em todo o mundo] que a diminuição do risco da infeção aumente quando se atingir os 60% [de imunidade de grupo]”.

“Nós ainda estamos em 3 ou 4%”, destacou, atirando que “não existem bolas mágicas” até porque existem “dificuldades na distribuição da vacina” e “populações sem acesso a injetáveis”, entre outros aspetos.

“Nesta próxima geração, não se pode pensar que a vacina nos vai livrar da máscara ou do distanciamento e da lavagem das mãos. Com vacina ou sem vacina, vamos continuar a viver desta forma”, concluiu.

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