“Isto era previsível e voltou a cair-se no mesmo erro cometido durante o primeiro confinamento geral. As imagens das filas de trânsito na ponte nova entre Valença e Tui são chocantes. Não evoluímos nem nas burocracias de controlo, nem na afetação de mais recursos humanos para fazer face às horas de maior fluxo entre as duas regiões para que o atravessamento seja mais célere”, afirmou Luís Ceia.
Para o responsável, houve “um mau planeamento” assente numa “distribuição geométrica dos pontos de atravessamento e não na realidade que os números demonstram”.
“Já não é a primeira vez e se calhar não vai ser a última, e as pessoas já sabiam atempadamente como é que as coisas acontecem. O movimento nesta fronteira não tem nada a ver com o registado noutras entre os dois países. Segundo os últimos dados do EURES Transfronteiriço Portugal / Galiza, o número total de espanhóis que diariamente atravessa a fronteira para trabalhar no Alto Minho é de 1.816 trabalhadores. Em sentido inverso, são 622 portugueses que, vivendo em Portugal, atravessam a fronteira, diariamente, para trabalhar na Galiza”, destacou.
Na sexta-feira, o Ministério da Administração Interna (MAI) explicou que há oito pontos de passagem permanentes (24 horas por dia), cinco pontos de passagem autorizados nos dias úteis das 07:00 às 09:00 e das 18:00 às 20:00, e um ponto de passagem autorizado (Rio de Onor) às quartas-feiras e aos sábados das 10:00 às 12:00.
Os oitos pontos permanentes são em Valença, Vila Verde da Raia, Quintanilha, Vilar Formoso, Marvão, Caia, Vila Verde e Castro Marim.
Os cinco pontos de passagem nos dias úteis (entre as 07:00 e as 09:00 e entre as 18:00 e as 20:00) são Monção, Miranda do Douro, Termas de Monfortinho, Mourão e Barrancos.
“Há burocracias que compreendo que tenham de existir porque ainda não foram resolvidas, como é o caso do cartão transfronteiriço, mas podiam ao menos colocar mais recursos nas zonas com mais fluxo”, reforçou o presidente da CEVAL.
Para Luís Ceia, a definição dos pontos de atravessamento entre Portugal e Espanha “não pode ser um exercício geométrico”.
“Tentaram dividir o país e atingir alguma geometria de equivalência entre todos os pontos transfronteiriços do país. Mas estamos a falar de uma fronteira que não tem nada a ver com o resto quer em termos de transporte de mercadorias, quer de trabalhadores transfronteiriços. Estamos a falar de mais de 2.400 trabalhadores transfronteiriços a passar entre o Alto Minho e a Galiza, sem contar com os camiões de transporte de mercadorias. Isto é uma situação que podia ter sido acautelada”, insistiu.
O presidente da CEVAL, que representa cerca de 5.000 empresas do distrito de Viana do Castelo que empregam mais de 19.000 trabalhadores, o encerramento da ponte entre Vila Nova de Cerveira e Tomiño “congestiona a fronteira de Valença”.
“É inevitável. Vila Nova de Cerveira tem uma zona industrial que justifica a abertura da ponte internacional parcialmente. O ideal era ter todas as pontes a funcionar, mas temos de ser sensatos. Pelo menos a ponte internacional entre Vila Nova de Cerveira e Tomiño tem de abrir parcialmente como a que liga Monção a Salvaterra do Miño”, apelou.
Segundo dados da CEAVL, “nas cinco fronteiras que ligam o Alto Minho à Galiza passam 31.190 veículos por dia, que corresponde a 47% do total global de veículos que todos os dias cruzam as fronteiras entre Portugal e Espanha”.
Em março de 2020, durante o primeiro confinamento geral, com a reposição do controlo de fronteiras entre Portugal e Espanha, o único ponto de passagem autorizado para trabalhadores transfronteiriços e transporte de mercadorias foi a ponte nova, uma das duas que ligam Valença e Tui.
Após vários protestos dos autarcas dos dois lados do rio Minho, Portugal e Espanha acordaram a abertura das pontes que ligam o concelho de Melgaço a Arbo, Monção a Salvaterra do Miño, e Vila Nova de Cerveira a Tomiño, o que não aconteceu com a fronteira da Madalena, que reabriu a 01 de julho.
Caminha é o único concelho do Alto Minho sem ponte de ligação à La Guardia, na Galiza. A travessia do rio Minho é assegurada pelo ‘ferryboat’ Santa Rita de Cássia, que também se encontra parado.