“Podemos pensar se esta doença, que emergiu há cerca de ano e meio, de uma fase de evidente epidemia e pandemia, estará ou não a entrar num momento de endemia e de que maneira é que aquilo que identificamos – o facto de a infeção ter um curso agudo – se está a desenvolver como uma síndrome pós-covid ou ‘covid longa’ pela presença de sintomas e de doenças para lá de 12 semanas após a resolução da fase aguda”, afirmou Henrique Barros.
Numa intervenção por videoconferência na reunião periódica de análise da situação epidemiológica do país, que junta no Infarmed, em Lisboa, especialistas, membros do Governo e o Presidente da República, o especialista da Universidade do Porto reforçou que endemia significa que “o vírus chegou para viver entre nós”.
“A infeção circula muito menos, a carga de infeção é muito mais baixa, mas temos de estar atentos à natureza cíclica destes fenómenos. Tudo leva a crer que a infeção se tornou endémica, ou pelo menos tornou-se endémica socialmente”, acrescentou.
Segundo Henrique Barros, a mudança na abordagem à covid-19 pode ser vista não apenas pela sua disseminação ou nível infeccioso, mas também na forma como as pessoas olham para a doença, com uma diminuição dos níveis de ansiedade ou de receio de um eventual contágio com o vírus SARS-CoV-2.
“Muita coisa mudou ao longo do tempo na nossa perceção da doença”, sintetizou o epidemiologista, notando também que a probabilidade de morrer é agora muito mais reduzida entre a população mais idosa, ao passar de um em cada cinco doentes para uma probabilidade atual de um em cada 20 infetados.