Como tatuadora, Renata habituou-se a perpetuar na pele dos outros sentimentos e momentos duradouros, mas desta vez vai deixar a sua marca na festa que leva desde pequena no coração, como mordoma do cartaz vencedor da Romaria d’Agonia de 2021, que invoca saudade e confiança.
“Sinto-me como uma menina que recebeu o melhor de todos os presentes em que o olhar se ilumina de felicidade”, confessa Renata Guisantes, 35 anos, que é também professora de dança, que dá corpo ao cartaz elaborado por Ricardo Ferreira, vencedor do concurso público anualmente promovido pela VianaFestas.
Confessa que ser mordoma do cartaz “é um sonho que toda a menina vianense tem”, além de “um orgulho profundo” por representar Viana do Castelo “ao peito, no olhar, no traje e no coração para todo o mundo”, mesmo que a Romaria continue este ano condicionada, em termos de público, pela pandemia. “Não ser tão presencial cria ainda mais saudade da nossa tão amada Romaria, no entanto esse facto não me diminui o orgulho e a felicidade de ser a mordoma do cartaz deste ano”, garante.
Renata não esconde a “saudade” da festa ao vivo, a mesma que o olhar no cartaz transmite e o mesmo sentimento que a levou a envolver-se num projeto com mais três amigos, incluindo o autor do cartaz, para recordar a Romaria, convidando artistas vianenses de várias áreas a representar a festa nas redes sociais.
“A saudade representada no meu olhar é a saudade dos meus quatro amigos e é a saudade de todos os artistas que criaram e estão a criar para o projeto ‘Des_romaria’. Estamos há praticamente um ano neste projeto, que foi criado exatamente por causa da saudade, por esta razão, este cartaz tem para mim um sentimento ainda mais especial”, explicou.
Traje à Vianesa da Ribeira Lima com quase 80 anos em destaque no cartaz
A morar em Carreço, Renata vai representar a Romaria com um traje à Vianesa da Ribeira Lima oriundo da freguesia de Perre, com mais de 80 anos, de duas amigas, enquanto o ouro é cedido pela Ourivesaria Freitas, ícone da filigrana em Viana do Castelo. “Para mim, a Romaria é o momento em que mostramos a nossa chieira e a nossa vaidade de ser de Viana, não só a todos os vianenses como a todas as pessoas que cá veem ou que nos vêm através dos meios de comunicação”, confessa.
Durante mais de 30 anos habitou-se a participar, a viver a Romaria por dentro, e agora será o rosto da festa, pelo que não esconde a felicidade. “A minha família sempre viveu muito a nossa Romaria e gostamos de a viver em família, com todos os primos e tios, mesmo os que estão mais distantes”, diz, enquanto recorda o momento em que recebeu a notícia da escolha do cartaz: “Não me consegui levantar do sofá durante uns bons minutos”.
Mesmo com uma festa que será ainda marcada pelas restrições impostas pela pandemia de covid-19, com um número reduzido de momentos ao vivo, garante o mesmo orgulho em levar com este cartaz a Romaria a todo o mundo. “Acho que ainda não consegui tomar essa consciência. No entanto, o meu objetivo é apenas representar a mulher vianense com toda a sua chieira, com todo o amor que lhe vai no peito e com uma saudade enorme no olhar. Um olhar cheio de saudade, mas dirigido para o futuro pois acredito que no próximo ano este orgulho de mulher vianense passe para fora do papel e do digital e vá para as ruas”, conta.
Enquanto observa o cartaz a que dá rosto e corpo, diz apenas esperar que consiga levar o sentimento da mulher vianense “a todo o mundo”.
“Cada pessoa tem uma vivência da romaria e de Viana única.
O desejo do Ricardo Ferreira e o meu é que não seja apenas um cartaz, mas que seja um meio que suscite sentimentos, sentimentos que remetem a esta amada cidade e a vivências bonitas que tenham tido. Se conseguirmos passar esse sentimento, então ser mordoma do cartaz tem o significado com que sempre sonhei”, assume ainda.
Um cartaz para um novo recomeço com confiança
Ricardo Miguel Ferreira, 49 anos, designer gráfico de Viana do Castelo, autor do cartaz, explica que a ligação à Romaria sempre foi especial e crescendo com o tempo. Entrar no concurso para a escolha do cartaz da Romaria, ainda condicionada pela pandemia, foi uma forma de fazer “um novo começo”. “E a esperança no reencontro da nossa Romaria como a conhecemos. Se calhar ainda não vai ser este ano, mas espero que o meu cartaz faça a ponte com uma Romaria em pleno para o próximo ano”, diz.
A inspiração, explica, veio precisamente “como uma vontade de combater a pandemia” com “as armas” que tem: Criatividade e ideias. Preparou um cartaz com fundo branco, para representar a luz que faltou a todos em 2020, simbolizando ainda as memórias, congeladas no tempo, dos vários momentos da festa, mas encarnando “a esperança, a serenidade, mas também a confiança no futuro”.
E à segunda tentativa, Ricardo Ferreira venceu o concurso: “Consistiu na desconstrução dos momentos que eu queria parar no tempo, e dos contrastes entre a cor e a alegria da nossa Romaria e do traje da mordoma, com o preto e branco das nossas memórias em relação a Romarias e festas passada. Queria tentar ter no cartaz tudo o que nos vem à cabeça quando pensamos na nossa Romaria, mas sem que com isso o cartaz ficasse muito pesado, e de difícil leitura”.
Já a escolha de Renata, colega do projeto ‘Des_romaria’, para mordoma do cartaz que preparou foi fácil: “Acho também que representa o contraste entre as tradições e a modernidade, sendo a Renata uma artista ligada às artes, à dança, à tatuagem e à pintura”.
Fotos: Rádio GEICE/DR