A opção da direção e da comissão autárquica foi centrar a ‘volta’ do líder em pequenos e médios concelhos, a maioria liderados pelo PS, onde a presença de Rui Rio pudesse dar “um empurrão” para a vitória, ficando de fora bastiões laranja de visita habitualmente obrigatória como Viseu, Braga ou Aveiro.
No período de campanha oficial, o PSD começou no interior – pelos distritos da Guarda e Castelo Branco – e a chuva foi trocando os planos de Rui Rio, cujo modelo de campanha se centrou habitualmente em três ações de contacto com a população e com os comerciantes locais, com um ou dois pontos de declarações à comunicação social.
Sem jantares comício e com poucos discursos do púlpito ou do carro-palco da caravana, a campanha decorreu num ritmo pouco intenso, mas muito concentrado, tipicamente entre as 11:00 e as 18:00, para apanhar gente na rua e o comércio aberto.
A falta de pessoas nas ruas do interior deu o mote para Rio começar a campanha com críticas aos atrasos na descentralização – “o PS não quer mudar nada” – e para introduzir o primeiro grande tema do seu discurso: o projeto-lei do PSD para transferir o Tribunal Constitucional de Lisboa para Coimbra, que acabou por ser aprovado na generalidade, mas com dúvidas se terá consequências na versão final.
Se Coimbra marcou o discurso de Rio na primeira semana de campanha – e foi sempre surgindo em intervenções por todo o país -, a cidade onde as sondagens admitem uma vitória do candidato independente apoiado pelo PSD não fez parte da volta no período de campanha oficial, com a justificação que Rui Rio – que começou na estrada em 25 de agosto – já lá tinha estado na pré-campanha.
Uma constante no discurso do presidente do PSD foram os ataques a António Costa, que acusou de confundir os papéis de primeiro-ministro e de secretário-geral, e de distribuir “sem critério” em cada concelho que parou “os milhões” do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR).
Rio até ‘transformou’ a bazuca – que dispara tiro a tiro – numa metralhadora que distribui as promessas de rajada, e apelou a que os eleitores “castiguem esta forma de fazer política” e deem um “aviso à navegação” ao Governo e ao PS nas autárquicas de domingo.
A meio da campanha, o líder do PSD introduziu o tema de apoios sociais como o subsídio de desemprego e do rendimento social de inserção – apelando a uma fiscalização “mais exigente” para que não sejam dados “a quem não quer trabalhar” -, mas recusou que este discurso pudesse ser comparado ao do Chega.
Nos últimos dias, Rio foi aproveitando temas da atualidade, como as palavras de Costa sobre a refinaria da Galp em Matosinhos ou a notícia de que o Governo se prepara para negociar com BE e PCP o englobamento obrigatório de rendimentos do IRS, para continuar nas críticas ao Governo.
Mas, durante toda a campanha, o tema da liderança do PSD esteve sempre omnipresente e Rio foi sendo questionado pelos jornalistas quer sobre o seu futuro, quer sobre os potenciais adversários internos.
Se sobre outros candidatos disse pouco – apenas reforçou um apelo da Comissão Permanente para que não se aproveitasse a campanha para “guerras internas” ou “projeções pessoais” – foi dizendo mais sobre como pretende analisar os resultados autárquicos no próximo domingo.
“Só tenho uma meta na minha cabeça naquilo que me possa fazer não ficar. É fazer igual ou pior ou muito pouquinho melhor”, afirmou, em entrevista à Rádio Renascença, clarificando que não irá demitir-se em qualquer caso, mas analisar se tem ou não condições para se recandidatar às eleições diretas previstas para janeiro.
Na terça-feira, ainda sem abrir o jogo, Rio desdramatizou essa análise, dizendo que no domingo não haverá “nenhum terramoto” no PSD, mas admitindo que não gosta “de desiludir” quem lhe vai pedindo para ficar, quer nas ruas durante a campanha, quer em mails e SMS que diz receber.
“Assumi e continuo a assumir até ao último dia que fiz o melhor que sei e posso”, disse.
Para a reta final da campanha, Rio guardou uma presença ao lado do candidato a Lisboa, Carlos Moedas, num almoço em que disse ter um ‘feeling’ de vitória na capital, depois de ter estado uma manhã e uma tarde com Vladimiro Feliz, que foi seu vice-presidente quando liderou a Câmara do Porto, e agora se candidata contra Rui Moreira.
O encerramento de campanha de Rio é tudo menos tradicional, com o presidente do PSD a passar os últimos dois dias nos Açores, em São Miguel.
Se as contas se fazem no domingo, e na caravana se fala em três ou quatro dezenas de câmaras que tanto podem cair para o PSD como para o PS ou independentes, o objetivo foi sempre claro ao longo da campanha: encurtar a distância de 63 câmaras que separa os sociais-democratas e socialistas desde 2017, o pior resultado do partido em autárquicas e que ditou a saída do anterior líder, Pedro Passos Coelho.