Há quatro anos a CDU perdeu nove câmaras para o PS. Resistiram 24 municípios, entre eles nove bastiões: Avis (Portalegre), Montemor-o-Novo, Mora e Arraiolos (Évora), Serpa (Beja), Santiago do Cacém, Palmela, Seixal e Moita (Setúbal).
A principal aposta foi na manutenção destes concelhos na esfera da CDU e foi nos bastiões que Jerónimo de Sousa desferiu as críticas mais duras contra o PS, o Governo socialista e o primeiro-ministro, António Costa.
A CDU começou o período oficial de campanha em Moura, antigo bastião, perdido em 2017 para o PS e que a coligação pretende recuperar, este ano com um adversário complementar em André Ventura, presidente do Chega e candidato à assembleia municipal.
No entanto, o dirigente comunista não desviou as atenções do adversário principal e criticou a utilização do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) como “uma cenoura” para ludibriar os eleitores e transferir competências que são da responsabilidade do Estado.
O PRR foi tópico recorrente durante a campanha e no bastião de Santiago do Cacém o secretário-geral chegou a exigir ao primeiro-ministro decoro na utilização dos fundos comunitários como propaganda eleitoral.
Neste município que é presidido pela CDU desde 1976, o membro do Comité Central comunista também fez pairar uma suspeita sobre candidatos do PS que desempenham cargos públicos e que poderão estar a utilizar a “bazuca europeia” para fazer promessas ao eleitorado.
O diagrama da campanha autárquica foi quase sempre o mesmo. Não houve arruadas e o contacto com a população foi reduzido. Jerónimo apareceu nas sessões públicas e comícios e discursou sempre depois do candidato ao município em questão, ou como descreveu Gertrudes Pardão, mandatária da candidatura a Benavente, o secretário-geral foi a “cerejinha em cima do bolo”.
Quando estava a ‘jogar em casa’, como aconteceu, em Benavente (Santarém), Moita (Setúbal) ou Mora (Évora), Jerónimo enalteceu a obra da CDU e a falta de programa dos adversários para a substituir. Por isso, só pediu a continuidade daquilo que, na opinião do dirigente do PCP, vai no bom caminho e só não está melhor por culpa do Governo.
Já nos municípios presididos pelos socialistas, o dirigente comunista ‘carregou sobre o PS’ a partir de freguesias onde a CDU resiste, como, por exemplo, Carnide (concelho de Lisboa) ou Vialonga (Vila Franca de Xira), e apontou o caminho para a convergência entre o PCP e o PS.
O primeiro-ministro, sustentou Jerónimo, não pode “carpir mágoas” pelos trabalhadores abrangidos por despedimentos coletivos, enquanto o Governo “não toca” no “bife do lombo dos interesses do capital”. Por isso, se o executivo “passar das palavras aos atos” talvez seja possível “emendar a mão”.
A exceção à regra foi Almada, uma das ‘joias da coroa’ da CDU que foi conquistada em 2017 pelo PS e onde a coligação apostou Maria das Dores Meira, autarca de Setúbal, para fazer frente a Inês de Medeiros.
Aqui os papeis inverteram-se e foi a candidata a criticar António Costa por trazer “às costas o saco do dinheiro a que chamaram ‘bazuca europeia’ e que vai esmolando por onde passa no apoio aos seus candidatos”.
Já Jerónimo de Sousa disse que “a candidatura do PS já se assume como oposição à CDU” em Almada e o objetivo é que passe a sê-lo no domingo.
A campanha esteve maioritariamente concentrada no distrito de Setúbal e no Alentejo, onde a presença da CDU é mais forte e onde a disputa é com o PS pela presidência dos municípios.
No Norte os objetivos são menores: recuperar (Guimarães) ou preservar (Porto) vereadores, por isso, bastou reservar um dia da campanha. A passagem por Viana do Castelo, Braga, Porto, Gondomar e Guimarães foi “tão bonita” que Jerónimo ficou rouco, mas considerou que “valeu a pena”.
A batalha nestas autárquicas era com o PS e a promessa foi cumprida. Mas vencer a guerra só “reforçando a CDU”, disse Jerónimo de Sousa, “milho a milho”, porque cada voto conta.
“Há um bom ambiente em torno da CDU, confirmei isso andando por este país fora, mas só os bons ambientes não chegam para ganhar eleições”, sustentou.