Terminaram o curso de licenciatura em Engenharia da Computação Gráfica e Multimédia na Escola Superior de Tecnologia e Gestão (ESTG) do Instituto Politécnico de Viana do Castelo (IPVC) e implementaram a Sioslife, um projeto que acabou por ser um dos vencedores do Poliempreende em 2011, e que visa a inclusão tecnológica da população mais idosa, juntando seniores, profissionais e família na promoção do envelhecimento ativo. “Estarmos muito próximos daquilo que eram as reais necessidades do mercado de trabalho e manter interação com empresas para desenvolver ferramentas e solucionar problemas reais sempre foram as grandes preocupações do curso”, garante um dos fundadores da Sioslife, Jorge Oliveira. Desde cedo, Jorge Oliveira e o colega de turma Fábio Macedo manifestaram interesse em participar em projetos de empreendedorismo e de criar o próprio emprego. “Esta vontade foi muito incentivada pelos professores do curso, o que faz perfeitamente jus à missão dos politécnicos”, aplaude o jovem empresário.
Jorge Oliveira, de Braga, e Fábio Macedo, de Vila Verde, conheceram-se durante a licenciatura na ESTG-IPVC e depressa abraçaram o projeto Sioslife.
Candidataram-se ao Poliempreende (rede de promoção do empreendedorismo no ensino superior politécnico nacional) com o projeto e da segunda vez acabaram por ser premiados. O certo é que quando Jorge Oliveira, que foi presidente da Associação de Estudantes da ESTG, terminou o curso, Fábio Macedo estava a trabalhar há já um ano, mas o sonho de dar vida a um projeto falou mais alto e acabou mesmo por apresentar a demissão, para que juntos começassem a trabalhar para “dar vida” ao Sioslife.
“Aqui começou esta aventura! Começamos a estar muito próximos de lares, centros de dia e residências seniores, porque já o tínhamos feito durante a licenciatura. O curso é muito focado na tecnologia e tivemos um professor que nos incentivou a conhecer a realidade dos lares de idosos e ao contactar com estas instituições percebemos que estavam extremamente afastadas do mundo tecnológico atual. Desde logo vimos aqui uma série de oportunidades”, conta Jorge Oliveira. Mas a oportunidade que “mais despertou” os ex-alunos da ESTG-IPVC foi a de conseguir combater a exclusão social da população mais idosa.
“Trata-se de um público com baixíssima ou inexistente literacia digital, com pouco acesso à tecnologia. Os idosos estavam convencidos de que não seriam capazes, mas no diagnóstico que fizemos descobriu-se que os conteúdos não estavam adaptados às motivações e gostos das deles”, constata o empresário. Muitas vezes “a real razão para não a utilizarem era mascarada com o argumento de que as tecnologias não eram para eles por causa da idade, mas sim para os netos, e estes facilmente aceitavam isso como desculpa, levando-os a camuflar o sentimento de exclusão”.
Por tudo isto, Jorge Oliveira defende que “é extremamente crucial que a tecnologia tenha aqui um papel inclusivo, em vez de fomentar o afastamento destas pessoas da sociedade”.
Jorge e Fábio começaram por fazer testes com a tecnologia existente e criaram um sistema interativo que foi, numa primeira fase, implementado na Santa Casa da Misericórdia de Caminha. “A partir daí começamos esta jornada e hoje já trabalhamos com mais de 350 instituições a nível nacional, todas elas ligadas aos seniores, alguns deles com mais de 100 anos e outros que não sabem ler nem escrever”, refere ainda o alumnus do Politécnico de Viana do Castelo, confidenciando que é um trabalho “muito gratificante” para todos, até porque “muitos dos seniores nunca utilizaram um simples smartphone e hoje conseguem comunicar com a família à distância e fazer uma série de atividades através da plataforma”.
Sioslife aposta na internacionalização
A Sioslife criada pelos alumni da ESTG-IPVC começou com algo “muito básico”, permitindo o contato social através de videochamada. Depois os empresários criaram um conjunto de conteúdos para ajudar os profissionais das áreas da Gerontologia e da Psicologia, construindo o conceito de jogos seniores, onde as pessoas se divertiam e trabalhavam a mente em simultâneo.
“Hoje temos uma plataforma com muitos conteúdos, uns mais simples e outros mais complexos, dependendo da capacidade de cada utilizador”, confirma Jorge Oliveira, evidenciando que para conseguirem estar cada vez mais próximos das pessoas idosas foram criadas ferramentas que ajudam os profissionais.
A Sioslife está a concretizar “um grande investimento” na plataforma para se aproximar daquilo que é o futuro da saúde digital, chegando quer a pessoas institucionalizadas quer a idosos que estejam em suas casas. “Durante um longo período, as pessoas institucionalizadas foram o nosso foco, mas há um ano lançamos um segundo produto para apoiar as pessoas que estão nos seus domicílios, aqui sim temos ferramentas para apoiar os serviços de apoio domiciliário, os projetos e os tradicionais sistemas de teleassistência para evoluírem para o patamar seguinte, com aposta na saúde digital”, explica o alumnus da ESTG-IPVC, admitindo que a partir do momento que a empresa tem esta “camada de usabilidade” faz com que qualquer pessoa consiga utilizar as novas tecnologias e aqui “abre-se todo um mundo de oportunidades”.
Com uma equipa multidisciplinar com cerca de 30 colaboradores, Jorge Oliveira garante que a empresa “está só a começar”. A expetativa é que a equipa cresça nos próximos anos, até porque “ainda há um longo caminho pela frente”. Jorge Oliveira revela ainda que a Sioslife está a dar “os primeiros passos” na internacionalização. “Já estamos a trabalhar em Espanha, mas queremos chegar a outros países europeus”, assume.
Plataforma dá diversas respostas
A plataforma Sioslife junta seniores, família e profissionais num ecossistema que permite o acompanhamento constante do idoso e a monitorização das suas atividades diárias de forma remota. Adaptado ao perfil de cada sénior, permite trabalhar individualmente ou em grupo as atividades de promoção de um envelhecimento ativo.
A Sioslife para a instituição de acolhimento pretende ajudar os profissionais a ter mais tempo para o cuidado personalizado dos seniores. Por isso, foi criado o computador Sioslife, que apresenta uma variedade de recursos que facilitam a vida de quem cuida. Trata-se um dispositivo multiutilizador desenvolvido para utilização individual ou em grupo, autónoma ou assistida. A plataforma dá respostas em tempo real e a evolução de cada idoso fica registada no sistema Sioslife, o que permite acompanhar o seu percurso e criar estratégias para o ajudar naquilo que mais necessita.
Já o Sioslife para os Serviços de Apoio Domiciliário é um dispositivo que complementa o serviço de apoio domiciliário, elevando-o a um patamar de qualidade e inovação de última geração. Instalado em casa do idoso, oferece às instituições ferramentas de acompanhamento remoto 24 horas por dia e poupança de custos, dando segurança aos familiares e cuidadores. Simples e intuitiva, a plataforma Sioslife foi desenvolvida e testada para ser utilizada por qualquer pessoa mesmo para as que não sabem ler ou escrever. Com apenas um toque no ecrã, o sénior pode pedir um serviço ou emitir um pedido de ajuda, que pode ser enviado para a sua rede de contactos, sejam eles familiares ou cuidadores. Todas as funcionalidades são adaptadas ao perfil de cada utilizador, podendo ser configuradas pelos cuidadores a qualquer momento.
Entretanto, a Sioslife para a família permite entrar em contacto com a família e amigos. Podem fazer videochamadas, enviar e receber fotografias e vídeos, tirar fotografias com amigos ou sozinhos – sem limite de partilha de ficheiros e de armazenamento – ver os conteúdos que mais gostam, ouvir música e contar histórias aos netos, combatendo desta forma o efeito potencialmente depressivo e devastador que a solidão pode provocar nos nossos cidadãos com mais idade. O sistema Sioslife torna possível a reconexão entre seniores, as suas famílias e as instituições que os acolhem.