Em comunicado, a plataforma sem fins lucrativos de divulgação de informação sobre construção e sustentabilidade alertou que a desconstrução do edifício de 13 andares, no centro histórico de Viana do Castelo, “deve ser realizada de forma a ser um exemplo a seguir, de reutilização e reciclagem de materiais, com o fim de contribuir para a descarbonização de um dos setores mais poluentes, o da construção”.
A responsável do PCS, a arquiteta Aline Guerreiro, defendeu que a desconstrução do edifício, já iniciada, deve “ser um projeto-piloto e demonstrativo sobre o que é a desconstrução”.
“Seria interessante tornar pública a catalogação e quantificação dos materiais que estão já a ser retirados do prédio Coutinho. Não menos importante seria ter acesso ao valor gerado em euros pela comercialização dos materiais úteis como, por exemplo, portas em madeira maciça perfeitamente aptas a novas utilizações, de forma a impulsionar novas práticas como, por exemplo, o comércio de materiais de construção em segunda mão. Esta prática é já corrente noutros países europeus, como a Holanda e a Dinamarca”, observou Aline Guerreiro.
Conhecido localmente como prédio Coutinho, apelido do empreiteiro que o construiu na segunda metade da década de 1970, o edifício Jardim tem a sua desconstrução prevista desde 2000, ao abrigo do programa Polis.
O projeto, iniciado quando António Guterres era primeiro-ministro e José Sócrates ministro do Ambiente, prevê para o local a construção do novo mercado municipal.
Inicialmente, o projeto da sociedade VianaPolis previa a implosão do prédio, mas a partir de 2018 a desconstrução foi a alternativa escolhida dada a complexidade da obra, em plena malha urbana, com edifícios históricos na envolvente, e por prever o aproveitamento e a reutilização dos materiais e causar menos impacto ambiental.
Em outubro, à Lusa, o vice-presidente da VianaPolis, Tiago Delgado, disse que vão ser retirados do prédio mais de 15 mil toneladas de materiais.
Tiago Delgado, que falava durante uma visita ao local da empreitada, em fase de “desfardamento” (remoção de todos os materiais não inertes, madeiras, alumínios, vidros, metais, para serem reutilizados ou reciclados), explicou que, com a desconstrução do edifício, vão ser retiradas 11.200 toneladas de betão, 2.800 de tijolo, 115 de produtos cerâmicos, 360 de aço, 110 de madeira, 56 de vidro e 32 de alumínio.
Já Cláudio Costa, da Baltor, empresa responsável pela empreitada, disse ser a primeira obra do género realizada em plena malha urbana em Portugal, destacando que “90% do material que for retirado do edifício” será para reciclagem e posterior utilização na construção de vias de comunicação, ou até no novo mercado municipal de Viana do Castelo, à qual a empresa vai concorrer.
A desconstrução vai custar cerca de 1,2 milhões de euros e vai estar concluída em março de 2022.
Para a arquiteta Aline Guerreiro, “estender a vida útil dos produtos contribuí para a diminuição da extração de novas matérias-primas e para a poupança de recursos tão fundamentais como água e energia, contribuindo assim para o cumprimento das metas a que Portugal se propôs no âmbito da neutralidade carbónica até 2050, tão fundamental e necessária, sendo por isso o tema central na COP 26”, a decorrer em Glasgow, no Reino Unido.
“Temos de agir já. E todas as ações para a diminuição de todos os impactes ambientais serão necessárias. A «desconstrução» (seletiva) deste prédio, poderá ser um bom exemplo a seguir”, salienta Aline Guerreiro.
O PCS escolheu o edifício Jardim como caso de estudo financiado pelo Fundo Ambiental para, “na fase do trabalho prático, fosse um exemplo a seguir em futuras desconstruções”.
“Um projeto de desconstrução pretende alterar o paradigma de extrair – consumir – descartar, transformando-o numa economia circular, onde todos os materiais retirados da obra a desconstruir, possam ter uma nova vida, tornando-os em “ingredientes” para um outro edifício. Neste sentido, praticamente apenas os resíduos perigosos, como aqueles que contêm amianto, por exemplo, serão descartados”, refere Aline Guerreiro.
Segundo o PCS, “o apoio da VianaPolis nas várias visitas ao prédio”, permitiu fazer “um levantamento exaustivo de todos os materiais, visitando todos os apartamentos disponíveis”.
Desse trabalho resultou um estudo detalhado, com a catalogação “de todos os resíduos a valorizar e os produtos que estariam aptos a reutilizar tal qual estavam como, por exemplo, sanitários, torneiras, portas em madeira maciça, e outros”.
“Este reaproveitamento evitará a produção de novos materiais, com todos os impactos associados”, sustentou Aline Guerreiro.