“Achei curioso que mesmo camaradas e amigos nossos, disseram. Cuidado, assim sem Orçamento de Estado estão a criar condições para abrir a porta à direita, mas a única porta que o PCP um dia abriu foi para que o PSD/CDS saíssem do Governo. A vida o dirá”, afirmou Jerónimo de Sousa, em Viana do Castelo referindo-se ao Governo de Pedro Passos Coelho.
O secretário-geral do PCP, que falava no Casino Afifense, durante a apresentação da lista de candidatos da CDU pelo círculo eleitoral de Viana do Castelo às eleições, disse ter encontrado “grandes dificuldades” quando, na última legislatura, o partido tinha contactos com o PS.
“Só muito mais tarde é que descobrimos que o Partido Socialista não queria soluções, queria ir para eleições. Queria eleições para, com base nesta ou naquela medida, procurar com ânsia a maioria absoluta. Se isso não resultar, já está a estender mão ao PSD”, apontou.
Jerónimo de Sousa disse ainda que as eleições legislativas de janeiro de 2022, “são para eleger deputados, e não o primeiro-ministro.
“Aliás esta teoria de que o partido mais fraco constituiu o Governo não é assim porque o PSD e o CDS tinham maioria, não tinham maioria absoluta, na Assembleia da República e, no entanto, a correlação de forças entre os 230 deputados não permitiram que essa solução passasse por isso o Governo PSD/CDS foi ao charco”, explicou.
Segundo o secretário-geral do PCP acrescentou que a “ilusão” de que as próximas eleições legislativas vão servir para eleger o primeiro-ministro, é para “criar a ideia que os portugueses só têm duas alternativas, ou PS ou o PSD, para depois se completam um ao outro”.
“A bipolarização serve claramente ao PS, em primeiro lugar, mas naturalmente também ao PSD. Volto a dizer. O tempo o dirá”, sustentou.
No discurso proferido, perante mais de uma centena de pessoas, Jerónimo de Sousa disse que “conhece bem” o PSD.
“Por muito que queira cavalgar alguns descontentamentos, disfarçando as suas reais intenções, não passa de uma versão nova de um programa já velho. É o partido dos que mandaram os jovens emigrar porque cá não havia lugar para eles. É o partido dos que diziam que o País estava melhor embora os portugueses estivessem pior. Estava certamente melhor para os grandes grupos económicos, mas pior para a generalidade da população”, atirou.
Segundo o líder comunista, “o PSD quer voltar, mas não vai conseguir e já anunciou estar disposto a dar a mão ao PS se este não tiver maioria absoluta, mão que aceita, certamente, não para aplicar uma política de esquerda”.
“Quer uns quer outros o que ambicionam é fugir da intervenção do PCP e da CDU e do que ela significa de avanço. O que querem é ficar de mãos livres e assim fugir à solução dos problemas”, sustentou.
Na intervenção, Jerónimo de Sousa falou das principais preocupações do partido relacionadas com o Serviço Nacional de Saúde (SNS), os transportes públicos, água, ambiente e na educação, a propósito das normas de prevenção da covid-19, insistiu que “se o Governo decretou o encerramento das escolas e obriga pais e encarregados de educação a ficar em casa com os filhos à sua guarda tem a obrigação de garantir a todos, e sem condições, o pagamento dos salários a 100%”.
“Não é admissível que o Governo volte a cometer em 2022 as injustiças que cometeu em 2020 e 2021 com as limitações que impôs a esses apoios”, especificou.