Em declarações à Agencia Lusa, Mário Rui Ferreira, da Sociedade Filarmónica Alunos Esperança, que organiza a marcha de Alcântara, parou de mexer nos arcos no dia 12 de março de 2020 e recomeçou há cerca de um mês, quando os marchantes se reuniram com o novo vereador da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Diogo Moura (CDS-PP), e ouviram que a autarquia tinha intenção de dar luz verde ao desfile deste ano.
“Agora tenho coisas para pôr nos arcos que já nem me lembro onde é que eram. Mas muito satisfeito estou, porque estamos há tanto tempo parados e é uma festa que não se pode perder”, afirmou.
Também Paulo Lemos, organizador da marcha da Penha de França, com base na coletividade Sporting Clube da Penha, está muito satisfeito por “voltar ao novo normal” e afirma que a marcha de 2022 “já está em velocidade cruzeiro”.
“Estamos a retomar tudo o que estava iniciado e já estamos a pôr na prática a conceção de figurinos, de arcos e de tudo o que compõe a marcha”, disse, em declarações à Lusa.
Os temas das marchas serão os mesmos, porque as coletividades já tinham “despesa feita, material comprado, músicas prontas”.
“Quando o concurso foi suspenso, já muitas coisas estavam em andamento. Portanto, agora é retomarmos aquilo que já estava. A EGEAC [Empresa de Gestão de Equipamentos e Animação Cultural] também mantém o tema dos 100 anos da Amália, que já não vão ser 100, vão ser para aí 102, mas não importa nada, o que importa é a Amália e que estamos preparados para o que for”, afirmou João Ramos, organizador da marcha de Alfama, preparada pelo Centro Cultural Dr. Magalhães Lima.
Num momento em que está a ser preparada uma candidatura para as marchas populares de Lisboa serem reconhecidas como Património Imaterial da Humanidade, seria negativo passar mais um ano sem as festas que mais mexem com a cidade, com o comércio e com os bairros, mas a antevisão de milhares de pessoas nos arraiais, num cenário ainda de pandemia, preocupa os organizadores.
Se para Mário Rui Ferreira todos têm de “aprender a viver com a pandemia”, João Ramos considera que “há ainda muito por resolver ao nível da organização”.
“Estamos todos convencidos que de vai tudo ser normal, como nos outros anos. Qual é aqui a questão que pode não ser normal, como nos outros anos? A questão da Avenida. Como controlar mais de 100 mil pessoas, caso se desfile na Avenida?”, questionou.
Vítor Silva, organizador da marcha do Bairro Alto, destacou que a saúde e a segurança devem ser prioridade para toda a gente envolvida nas marchas, que só na sua coletividade, o Lisboa Clube Rio de Janeiro, são mais de 100.
Levantou ainda outra questão que falta resolver: “Qual a solução para o caso de marchantes ficarem infetados com o coronavírus?”. O regulamento prevê expressamente que cada marcha apresente 24 pares de marchantes e apenas um par suplente, além de duas mascotes, um padrinho e uma madrinha.
“Se temos o azar de estarem quatro ou cinco pessoas infetadas, não sabemos exatamente o que pode acontecer, mas temos de estabelecer uma regra agora e não quando chegar a altura”, defendeu, salientando que esta questão já foi apresentada à CML.
Vítor Silva entende que o regulamento deveria ter “uma adenda ou uma norma transitória na qual esteja bem explícito que, no caso de acontecer algum azar por causa da pandemia, a marcha não será desclassificada”, até porque dessa forma ficaria automaticamente arredada também da competição no próximo ano.
Depois de dois anos de paragem, no Bairro Alto a equipa das marchas mantém-se, mas os marchantes não são todos os mesmos. Na Penha de França mantém-se 95% dos marchantes, em Alcântara entraram alguns novos, porque a vida de outros tantos mudou, e em Alfama saíram quatro.
As Festas de Lisboa decorrem no mês de junho e têm como momento alto a noite de Santo António, que se celebra de 12 para 13.
Na terça-feira, o vereador da Cultura revelou à Lusa que as festas serão retomadas este ano, com marchas, arraiais e casamentos de Santo António, num “risco partilhado” entre organização e participantes, após dois anos de suspensão, devido à pandemia de covid-19.
Diogo Moura afirmou que está previsto o habitual desfile na Avenida da Liberdade, mas existe como plano B a possibilidade de a atuação decorrer no Altice Arena, que tem lugares marcados nas bancadas.
Salientando que as coletividades passaram dois anos de muitas dificuldades, o vereador revelou ainda a intenção de manter a atribuição de 30 mil euros a cada grupo participante.
A seleção dos participantes é da responsabilidade das coletividades, que podem colocar novos requisitos no momento da inscrição, como a obrigatoriedade de certificado de vacinação, mas o conselho do vereador é que tenham mais marchantes do que o número obrigatório, “para terem alguma salvaguarda caso alguém de repente fique em isolamento ou contraia covid-19”.