A moagem de trigo e milho registou hoje uma nova alta de preços no mercado europeu, encerrando nos 381,75 euros e 379 euros por tonelada nos prazos de março, respetivamente, com a guerra na Ucrânia a provocar receios quanto à oferta de grãos.
“Quando vemos como os ucranianos reagem e lutam, podemos ver que este conflito provavelmente durará e é isso que desencadeia essas compras”, afirmou à AFP Damien Vercambre, da Inter-Courtage.
“A diferença da procura (com a oferta) vai durar”, considerou, tanto mais que alguns países produtores, como a Argentina e a Bulgária, manifestaram o desejo de “controlar os preços” e conter a inflação no mercado interno, o que levanta receios de freios nas exportações.
“Perguntamo-nos se não há outros países que os seguirão”, comentou o responsável.
A situação promete ser crítica para países ultradependentes de importações para alimentar a sua população, como é o caso do Egito.
Aliás, 500.000 toneladas de trigo deveriam ter sido embarcadas para o Egito que agora terá de “encontrá-las em outro lugar”, afirmou, por sua vez, Michel Portier, diretor do gabinete da Agritel, durante um discurso na feira agrícola.
Segundo este responsável, o país terá “oficialmente quatro meses” de ‘stocks’.
Para a Argélia são 1,5 milhões de toneladas de trigo que podem ser encontradas noutros lugares.
“Nenhum transportador coloca mais um barco no mar Negro”, mesmo que haja um pouco na Roménia, prosseguiu, considerando que, “no curto prazo”, se deve retirar a Rússia e a Ucrânia dos exportadores.
Em relação ao milho, a Ucrânia, que normalmente produz 40 milhões de toneladas por ano, conseguirá semear no próximo mês, questiona-se.
“Grande dúvida”, respondeu Portier, que espera uma continuação da alta de preços nos próximos dias.
A Rússia lançou na madrugada de 24 de fevereiro uma ofensiva militar com três frentes na Ucrânia, com forças terrestres e bombardeamentos em várias cidades. As autoridades de Kiev contabilizaram, até ao momento, mais de 2.000 civis mortos, incluindo crianças, e, segundo a ONU, os ataques já provocaram mais de um milhão de refugiados na Polónia, Hungria, Moldova e Roménia, entre outros países.
O Presidente russo, Vladimir Putin, justificou a “operação militar especial” na Ucrânia com a necessidade de desmilitarizar o país vizinho, afirmando ser a única maneira de a Rússia se defender e garantindo que a ofensiva durará o tempo necessário.
O ataque foi condenado pela generalidade da comunidade internacional, e a União Europeia e os Estados Unidos, entre outros, responderam com o envio de armamento para a Ucrânia e o reforço de sanções económicas para isolar ainda mais Moscovo.