Em setembro de 2019, Lúcifer, então com 5 anos, foi a pioneira, no hotel The Yeatman, no combate à presença das gaivotas, tornando-se evidente que bastava a sua presença para afastar as audazes aves marítimas. Com o avançar do tempo e do espaço a patrulhar – entretanto foi criado mais abaixo o World of Wine (WOW) também dotado de uma enorme esplanada -, foi preciso aumentar a capacidade de resposta, relatou à Lusa, a representante no Porto da empresa falcoeira T Falcon.
Segundo Joana Silva, são hoje três as águias-de-Harris (espécie ‘Parabuteo unicinctus’), que fazem diariamente a patrulha em ambos os locais, juntando-se à Lúcifer, a Dilius e a Leia. É assim das 11:00 às 19:00.
“A relação que mantemos com o hotel deu-nos uma abertura e disponibilidade muito grandes para treinarmos as aves e terem muita liberdade de voo, pelo que começaram a receber um treino específico, mais eficaz na manutenção das gaivotas longe”, explicou a responsável, garantindo que as águias “não atacam nem ferem as gaivotas, limitando-se a garantir que se afastam”.
E prosseguiu: “Não é natural para estas águias voarem atrás de algo, pois estão habituadas a caçar mamíferos no solo, pelo que foi necessário fazer um treino específico para afastarem as gaivotas. Mas, na maioria das vezes, basta estar no local para que as gaivotas voem para longe”.
“A altura do ano é muito importante para a eficácia do nosso trabalho, pois em fevereiro, com a chegada do tempo quente, inicia-se a época reprodutiva e as gaivotas ficam muito mais agressivas e protetoras do território, têm mais fome porque têm muito mais atividade na construção de ninhos e na proteção das crias. Isto faz com que haja muito mais gaivotas e maior agressividade para com os humanos, roubando-lhes a comida das mesas”, detalhou a especialista em aves.
A estas três águias junta-se a Dupont, que trabalha em mais dois hotéis de luxo situados na zona ribeirinha de Vila Nova de Gaia, que também requereram o serviço, contou.
As quatro trabalham “por turnos, sempre expostas, mas nem sempre a voar por ser extremamente cansativo para elas”, explicou a responsável sublinhando que, para este tipo de aves, “quatro horas de voo diário já é um trabalho muito bem feito”.
Duarte Almas, diretor de instalações do hotel The Yeatman, destacou à Lusa que “o efeito dissuasor” da presença das pequenas aves “tem sido grande” e que não possuem registo de “ataques das gaivotas” nos últimos tempos.
“Deixamos a natureza fluir, as aves fazem a sua dissuasão por forma a que as gaivotas nunca cheguem a pousar nos nossos espaços”, assinalou o responsável, que mencionou terem aproveitado a presença das águias-de-Harris para serem “didáticos”, através de “ações de sensibilização sobre a importância destas aves na natureza”.
Do outro lado do rio Douro, na Ribeira, no Porto, o restaurante da cadeia McDonald´s aderiu há uma semana ao serviço, garantindo à Lusa a responsável da empresa falcoeira, Joana Silva, que o facto de terem de funcionar junto a multidões não “retira qualidade ao serviço das águias”.
“As águias-de-Harris são treinadas para ter uma habituação muito grande às pessoas, para que isso seja um reforço positivo. Para elas, estarem perante uma multidão é indiferente. O treino específico garante isso”, acrescentou.
Tiago Soutelo, gerente do restaurante, confirmou à Lusa que o serviço “está ativo há uma semana” e que a empresa de falcoaria se propôs “eliminar o hábito das gaivotas permanecerem perto da esplanada”.
“É uma praga, tudo o que é espaço com esplanada está a sofrer”, referiu o responsável, convencido pelos argumentos da empresa de que a “águia tem de estar todos os dias” e que só a sua “regularidade” no local o faz ser “eficiente”.