As diferenças entre as “quatro matemáticas” que existem atualmente – para os cursos de ciências, humanidades, artes e cursos profissionais – vão esbater-se no início do secundário, caso se mantenham as propostas de revisão das Aprendizagens Essenciais de Matemática.
A informação foi avançada aos jornalistas por Jaime Carvalho Silva, coordenador do grupo de trabalho responsável pelas propostas sobre o que devem ser as Aprendizagens Essenciais no 10.º, 11.º e 12.º anos e no ensino profissional.
“Infelizmente, a Matemática por vezes condiciona muitas das escolhas dos estudantes” no momento de escolher a área a seguir no ensino secundário, disse.
Para contrariar a fuga de alunos chegou a ser considerada a hipótese de a Matemática do 10.º ano ser igual para todas os cursos, mas a ideia caiu.
“Há apenas 1/3 do ano que é praticamente comum”, explicou Jaime Carvalho Silva, acrescentando que “o primeiro período é muito semelhante”.
Segundo o ministro da Educação, João Costa, que participou na conferência de imprensa de apresentação das Aprendizagens Essenciais de Matemática, a versão final do documento só estará pronta “no final deste ano” e o diploma “será homologado ainda este ano civil”.
A consulta pública termina em 15 de setembro e depois, durante dois meses, o grupo de trabalho responsável pelas propostas “irá analisar tudo o que for feito”, disse Jaime Carvalho da Silva.
No calendário está também a formação de professores: “Foi tudo pensado desde o primeiro momento”, garantiu hoje João Costa a jornalistas, acrescentando que em setembro arranca a formação das Aprendizagens Essenciais no ensino básico e, logo depois, será a vez do ensino secundário.
Jaime Carvalho da Silva explicou que estas propostas tentam trazer um “equilíbrio entre aplicações visíveis de Matemática, mas também vão resgatar um pouco da matemática clássica”.
O grupo de trabalho defende mudanças tais como ser uma disciplina “para todos”, que os alunos consigam utilizar no seu dia-a-dia.
Entre as propostas do grupo de trabalho, composto por matemáticos, professores e especialistas em educação, surge a ideia de uma “Matemática para todos”, onde os “formalismos e os níveis de abstração excessivos deverão ser evitados”.
Outra das “ideias inovadoras do currículo” é o de as escolas terem uma “Matemática para a cidadania”, até porque os alunos devem ter “ferramentas de análise dos processos sociais que estão na base do exercício de uma cidadania ativa”.
As aprendizagens essenciais deverão introduzir temas como “modelos e processos eleitorais” e “análise de modelos financeiros”, assim como valorizar o desenvolvimento da “literacia estatística”.
Sobre a literacia financeira, os autores da proposta salientam a importância de os alunos serem capazes de usar a matemática em matérias como os salários, impostos, descontos ou promoções.
“Valorizar o pensamento computacional” é outra das “ideias inovadoras do currículo”.
“A Matemática é a disciplina que mais recursos consome”, disse João Costa, lembrando que é a que tem mais horas semanais de aulas e mais horas de apoios e que “persiste em ser a disciplina com mais insucesso”.
A entrada em vigor será feita de “forma progressiva”, primeiro com os alunos do 10.º ano, depois com os do 11.º e finalmente com os do 12.º, disse João Costa.
O trabalho de revisão da disciplina começou há seis anos, quando mais de 1/3 dos alunos chumbava a Matemática e muitos deixavam de seguir cursos de Ciências e Tecnologia e Ciências Socioeconómicas por causa da Matemática.
Jaime Carvalho da Silva acrescentou que o grupo de trabalho não apresentou alterações para a Matemática Aplicada às Ciências Sociais (MACS), que é destinada aos alunos do curso de Línguas e Humanidades.
O coordenador admitiu que a sua “bandeira” é que todos os alunos tenham Matemática no secundário.