Apresentada como habitualmente antes da Romaria da Senhora d’Agonia, que acontece ininterruptamente desde 1995, a publicação recolhe textos históricos, acontecimentos com um século, testemunhos, textos, reportagens e poesia de e reunidos por 35 colaboradores e faz ainda uma revisitação dos vários cartazes oficiais da festa ao longo dos anos, e a sua própria evolução.
“A revista ‘A Falar de Viana’ assinala 10 anos neste novo formato e é um marco anual que antecede a Romaria. Esta revista é o encontro de memórias em diferentes perspetivas sobre Viana do Castelo e sobre a Romaria d’Agonia”, recorda Manuel Vitorino, presidente da VianaFestas e vereador da Cultura na Câmara de Viana do Castelo.
Numa coletânea de mais de 300 páginas é possível encontrar textos inéditos, resumos das notícias que marcaram as festas e a cidade há 100 anos, mas também fotos raras que retratam a evolução de ambas, passando pelo relato pormenorizado das viagens do “ovo” do sacrário do mítico e histórico Convento de São Francisco do Monte.
“São memórias que moram no coração, mas ao mesmo tempo são histórias que ficam perpetuadas para as gerações mais novas”, acrescenta Manuel Vitorino.
Neste seu 28.º volume – o XI da II série -, a revista “A Falar de Viana”, apresentada publicamente, este sábado, pela VianaFestas e pela Câmara de Viana do Castelo, é coordenada por Rui Viana, diretor da Biblioteca Municipal de Viana do Castelo, e tem uma vez mais coordenação editorial por Porfírio Silva.
Uma obra que pretende valorizar a componente cultural e religiosa das festas, e a sua relação com a cidade e da região, recorrendo inclusive a textos inéditos.
Tiago Brandão Rodrigues, presidente da Comissão de Honra da Romaria em 2022, recorda, na sua mensagem nesta publicação, o interesse dedicado a Viana do Castelo pelo prémio Nobel da Literatura, José Saramago, numa viagem que realizou em 1981.
“Mesmo entendendo o valor do que Saramago visitou e descreveu na sua passagem por Viana, desconfio que não tenha conhecido e entendido completamente Viana, por não ter cá vindo no pico de agosto para poder descrever com avidez, mas calmaria, nem que fosse por um dia, o que acontece na Nossa Senhora da Agonia. Por muito que não fosse homem de devoção, acredito
que dedicaria prosa boa e capaz, transformando-se ele próprio em romeiro-mor nesses dias de agosto”, descreve Tiago Brandão Rodrigues, na mensagem de abertura da publicação.
Através de um árduo trabalho de recolha de informação desenvolvido nos últimos meses, em várias fontes, o “A Falar de Viana” deste ano recorda, como é hábito, a Romaria de há cem anos.
“Logo no primeiro dia de festa é grande o movimento nas ruas da cidade e no local da feira a custo se transita. Os hotéis da cidade estão esgotados, o mesmo acontece no Grande Hotel de Santa Luzia. Uma nota curiosa é que se veem muitos carros com melancias para venda, e que o aluguer de cadeiras para o Festival no Jardim e Serenata é de 300 réis cada uma, revertendo o lucro em benefício da Caridade”, lê-se.
Contudo, uma tragédia, também retratada na publicação, assombrou a festa de 1922, precisamente em 19 de agosto, no segundo dia da Romaria, também recordado, como documentação histórica, nesta publicação.
“Grande explosão na oficina de pirotecnia dos Silvas, assim conhecidos, localizada na Abelheira, provocando quatro mortos”, assim titulava o periódico local “A Aurora do Lima”, abordado na revista, recordando “uma enorme detonação, seguida d’outras mais pequenas” que geraram o “alarme” a “toda essa massa de gente disseminada por vários pontos” da cidade.
Apesar do episódio trágico, a festa de 1922 decorreu sem mais sobressaltos ou problemas, como recorda o balanço final transcrito por Rui Viana na publicação, com destaca para touradas que foram de “primeira ordem” e um concurso hípico que “também foi do agrado dos forasteiros”, além do Festival no Jardim Público “considerado um dos melhores números do programa”.
As iluminações da festa “foram de belo efeito”, no entanto, a Serenata “não produziu o efeito desejado, por falta de barcos, que não iluminaram devido à noite húmida e nevoenta”.
“Os comboios trouxeram 20.500 pessoas, ‘camions’ e automóveis 5.000. No domingo, vieram a pé das freguesias do concelho cerca de 4.000 pessoas que se incorporaram na peregrinação. Mas, como de costume, “não faltaram roubos de relógios, carteiras, cordões e dinheiro” dada a afluência de amigos do alheio, alguns bem conhecidos e que acabaram presos – cerca de 20 homens e duas mulheres, oriundos do Porto, Braga, Famalicão e Guimarães.
“Mas, isto, também já faz parte da festa”, recordavam os jornais de então sobre a festa de há cem anos, retratados na revista “A Falar de Viana”.