“Há pouco tempo eram pouco mais de 30 e neste momento estamos nas 63”, referiu Miguel Fontes aos jornalistas em Viseu, onde visitou várias empresas, tendo desafiado os seus responsáveis a aderirem a este programa-piloto.
Tratam-se de 63 empresas “dos mais diversos setores de atividade” e situadas “um pouco por todo o país”, acrescentou, considerando que este número “tem todas as condições para crescer”.
No seu entender, as conversas com os empresários têm sido “muito estimulantes e muito interessantes” e uma oportunidade de ultrapassar “o desconhecimento que as empresas têm de um conjunto de iniciativas a que podem recorrer”.
O secretário de Estado deu o exemplo do grupo Navigator, que visitou recentemente em Cacia e cujos responsáveis achavam “que a semana de quatro dias não era para eles, porque eram uma unidade industrial, com laboração contínua”.
No entanto, passou a fazer sentido quando formularam o problema que tinham, de “dificuldade em atrair os mais jovens para o chão de fábrica, por muito que tivessem uma política remuneratória até acima da média”, sendo a razão principal “a questão dos horários de trabalho, da organização dos tempos de trabalho e de haver pouca disponibilidade para isso”.
“Quando eu expliquei que a semana dos quatro dias poderia ser uma resposta para essa situação, ficaram super entusiasmados e imediatamente disseram: ‘bom, então nesse caso nós queremos experimentar'”, contou.
Esta sensibilização vai continuar a ser feita, tendo o Instituto do Emprego e da Formação Profissional (IEFP) já marcadas novas sessões de esclarecimento para as empresas, a realizar nos dias 20 e 30.
“É de experimentação que estamos a falar. Nós não queremos impor nenhum vanguardismo, nenhum modelo que tenha que servir a todas as empresas, a todos os setores, ao mesmo tempo. Numa base de adesão voluntária, obviamente reversível a todo o momento, queremos fazer um estudo que nos permita tirar algumas conclusões”, justificou.
O programa-piloto irá prolongar-se até ao final de 2023.
“Agora estamos, durante este tempo, a motivar as empresas, a prepará-las e a capacitá-las para a transição para esse projeto”, explicou, lembrando que as expectativas do mundo do trabalho estão a mudar, sobretudo para as camadas mais jovens.
O IEFP vai financiar, até 350 mil euros, o programa-piloto de redução da semana de trabalho para quatro dias, segundo o despacho que aprova o programa-piloto, publicado a 20 de dezembro do ano passado.
O programa-piloto consiste na avaliação da implementação da semana de quatro dias, com a correspondente redução do número de horas de trabalho, sem diminuição da retribuição, sendo dirigido às entidades empregadoras e respetivos trabalhadores que voluntariamente queiram aderir.
As entidades que se inscreverem no programa-piloto são avaliadas antes, durante e após o programa, através de indicadores relativos à empresa, designadamente produtividade e custos intermédios, e aos trabalhadores, incluindo a saúde e bem-estar, com recurso a metodologia a definir pela equipa coordenadora.
O coordenador do projeto-piloto da semana de quatro dias, Pedro Gomes, professor em Birkbeck, Universidade de Londres, defendeu no final de outubro, que a semana de quatro dias ainda tem “um caminho muito longo” a percorrer até ser implementada em Portugal, mas que “é um primeiro passo de uma caminhada que vai demorar muitos anos a fazer”.