“Viva os animais” foi a mensagem que a pequena Lívia, de 06 anos, ergueu num cartaz com letras coloridas escritas à mão. Fez todo o percurso da marcha, acompanhada da mãe, Luanda Costa, de 42 anos, que a trouxe pela defesa de todos os animais e pelo “respeito a todos os seres”.
Junto à arena do Campo Pequeno, Luanda Costa assumiu-se como ativista pela causa animal e defendeu que é preciso alterações neste âmbito, inclusive nas leis.
“Estamos aqui em frente a um lugar onde ainda se cultua a tourada sob o argumento da tradição […]. Pela via dos animais, todo o tipo de barbaridade, o pior da humanidade, pode aparecer sem que haja nenhuma censura ou pouca censura”, afirmou, em declarações à agência Lusa.
Os participantes começaram a juntar-se no Campo Pequeno desde as 15:00 e, uma hora depois, com cerca de três centenas de pessoas, o grupo arrancou até à Assembleia da República, onde chegou perto das 18:00, já com meio de milhar a fazer-se ouvir na Rua de São Bento, com a frase de ordem “proteção na Constituição”.
Acompanhado do seu cão Artur, que resgatou por ser vítima de maus-tratos, Paulo Fernandes, de 53 anos, veio de Almada, no distrito de Setúbal, para reclamar proteção animal: “Por todos os animais, não apenas pelos animais de companhia, mas por todos eles.”
“Definitivamente, falta mudar a lei, falta boa vontade política para resolver muitas situações que mesmo com a lei existente poderiam ser resolvidas e não são. Falta maior e melhor envolvimento da sociedade em geral, porque no que toca ao respeito animal está, notoriamente, muito mal formada”, indicou.
Paulo disse ainda que a proteção dos animais tem “avançado um pouco” nos últimos anos, “não tanto às custas das decisões políticas”, mas graças às pessoas que se voluntariam e que lutam pela causa.
Também da margem sul do rio Tejo, do Monte da Caparica, em Almada, Maria Gonçalves, de 73 anos, decidiu estar presente na marcha, na qual participa desde 2010, por considerar que é preciso continuar a lutar pelos direitos dos animais, nomeadamente pela criminalização dos maus-tratos.
“Interesso-me por todos os animais. Não sou vegetariana, não sou vegan, mas interessam-me os animais de companhia, os animais para a alimentação, a maneira como são criados, como são mortos, como são transportados. Todas essas coisas têm que ser feitas com dignidade”, defendeu.
Lamentando que a lei de proteção dos animais não seja aplicada, porque “ninguém foi preso por fazer mal a um animal”, Maria criticou a evolução nesta área: “Às vezes dá-me ideia de que se dá um passinho para a frente e dois para trás”.
Vegan e defensor desse estilo de vida, sem consumo de bens e alimentos de origem animal, Carlos Rebelo, de 51 anos, de Cascais, distrito de Lisboa, juntou-se à marcha em defesa “de todos os animais, não só dos cães e dos gatos, porque não há diferença, a única coisa que muda é a perceção”. No seu entender, todos os seres vivos devem estar protegidos na Constituição da República.
“Não há diferença nenhuma entre um porco, um cão, um gato, um humano, quem quer que seja”, expôs, recusando ser fundamentalista e apelando à “igualdade de direitos para todos”.
“Fundamentalistas são aqueles que comem carne, peixe e outros derivados e acham que podem dispor, à vontade, dos animais, tratá-los da maneira que tratam, vê-los como objetos. Eles são seres sencientes como nós também, não há diferença absolutamente nenhuma”, frisou.
Nesta marcha promovida pela associação Animal, a que se associaram outras organizações, vários foram os cartazes erguidos, com mensagens como “Chega de impunidade, justiça já!”, “Maltratar um animal é um crime moral” e “Vivam os touros! Morra a tradição!”.
Em declarações à agência Lusa, a presidente da Animal, Rita Silva, disse que o objetivo da marcha foi “pedir mais proteção para os animais” e que essa demanda “esteja, de forma completamente explícita, incluída na Constituição da República”.
Considerando que o caminho está a ser feito para que tal seja concretizado, Rita Silva realçou a petição “Animais na Constituição”, que está em curso e que conta já com cerca de 30 mil assinaturas, para depois ser entregue no parlamento com vista a “juntar a vontade popular com o que o legislador decidir”.
Em solidariedade, estiveram presentes a coordenadora do BE, Catarina Martins, e a porta-voz do PAN, Inês Sousa Real, bem como representantes dos partidos políticos PEV e Volt.
Poucos foram os animais a marcar presença na marcha, porque a organização apelou a que as pessoas não os levassem, pela agitação da iniciativa e pelo calor.
Este é o 20.° ano em que a associação Animal realiza esta marcha, que todos os anos tem uma componente genérica e uma campanha com um fim específico. “Este ano é a campanha ‘Animais na Constituição'”, referiu Rita Silva.