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30 Jun 2023

Último fim-de-semana de “Agamémnon” no Alto Minho

Pedro Xavier

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Chega ao fim a circulação minhota do espetáculo de teatro “Agamémnon”, coproduzido pelas companhias ‘Comédias do Minho’ e ‘Primeiros Sintomas’. As últimas apresentações da encenação de Bruno Bravo, no Alto Minho, acontecem no Centro Cultural de Paredes de Coura, nos dias 30 de junho e 1 de julho, às 22h00. De 18 a 23 de julho, a tragédia grega será apresentada em Lisboa, no espaço dos Primeiros Sintomas.

Depois de passar por Monção e Valença, “Agamémnon” chega a Paredes de Coura. Em Monção, a sala do Cineteatro João Verde, com cerca de 300 lugares, atingiu 90% da sua capacidade na noite de estreia do espetáculo, no dia 3 de junho. Mas se Monção se mobilizou para ver a tragédia grega, Valença não ficou atrás. O espetáculo aconteceu ao ar livre, no dia 16 de junho, tendo a fortaleza de Valença e o túnel de acesso ao Baluarte do Faro como parte integrante do cenário. O desenho de luz foi adaptado ao espaço e impressionou os valencianos. A lotação esgotou por completo e algumas pessoas escolheram permanecer em pé para assistir ao espetáculo fora do recinto delimitado. Em apenas duas apresentações, contam-se mais de 500 espectadores. Espera-se que o público se mobilize da mesma forma para usufruir das últimas datas em Paredes de Coura.

“Agamémnon” é a primeira peça da trilogia “Oresteia” e foi escrita por Ésquilo no século V a.C.. É a única trilogia conservada da época clássica e trata do regresso vitorioso do Rei Agamémnon à cidade grega de Argos, após a guerra de Troia.  O Coro, uma das principais personagens esquilianas, reúne-se, refletindo sobre a glória e lamentando os que pereceram em batalha. Mas o regresso do rei, após dez anos de ausência, preconiza um desfecho trágico.

Bruno Bravo, encenador e diretor artístico da companhia Primeiros Sintomas, não quis fazer uma reconstituição histórica de uma tragédia grega. Nesta coprodução com as Comédias do Minho trabalhou “a partir da tragédia grega”. Ao pensar sobre o Coro, Bruno Bravo decidiu que este teria de ser um verdadeiro signo de comunidade. E teria de ser diverso – composto não apenas por elementos masculinos ou anciãos, mas também por vozes jovens e femininas. Para tal, o Coro teria de ser integrado por pessoas provindas de todos os setores da sociedade. A coprodução com as Comédias do Minho, que desenvolvem um trabalho artístico com grande envolvimento das comunidades do Vale do Minho, não surgiu por acaso. Na circulação minhota, o Coro é composto por 33 atores não profissionais, de Monção, Valença e Paredes de Coura. Em palco, a comunidade interpreta o Coro lado a lado com o elenco de ambas as companhias: António Mortágua, Joana Campos, Mafalda Jara, Diogo Mazur (Primeiros Sintomas), Luís Filipe Silva e Sara Costa (Comédias do Minho).

Agamémnon regressa a Argos com a sua escrava e amante Cassandra. A cidade é governada por Clitemnestra, sua esposa. E é ela, em conjunto com Egisto, seu amante, que assassinará o marido, vingando a filha Ifigénia, morta em sacrifício pelo pai para acalmar o mar revolto quando as embarcações navegavam em direção a Troia.

Sobre a narrativa, Bruno Bravo afirma: “neste espetáculo, a ação existe através da palavra, do texto, do discurso. É quase como um livro falado, suspenso no tempo.” E porque o espetáculo atribui este lugar central ao texto, como é característico no trabalho do encenador, a atenção dada à tradução foi enorme. Bruno Bravo convidou José Pedro Serra, Doutor em Cultura Clássica e especialista em Literatura Grega e Teatro Antigo, para traduzir a “Oresteia” diretamente do grego antigo.

Magda Henriques, diretora artística das Comédias do Minho, a propósito da importância da palavra no espetáculo de Bruno Bravo, comenta: “Talvez seja, também, um espetáculo sobre o poder da contemplação e da atenção – a atenção como um gesto político.”

O texto ganha vida através da musicalidade que se atinge em cena. As palavras tornam-se partitura. Sérgio Delgado, que compõe a música e faz a sonoplastia de “Agamémnon”, também dirigiu o coro. Bravo e Delgado procuraram um ritmo, uma modulação da palavra, para que as frases ficassem no ouvido e proporcionassem uma experiência sonora ao público. O cenário impõe-se através de uma estética hiper-realista, criada por Stéphane Alberto. Cada elemento presente no espaço atinge uma função simbólica para a história. O desenho de luz é de Alexandre Costa.

“Agamémnon” é o primeiro momento de um projeto maior, “Oresteia”, que decorre ao longo de três anos e que resultará em três espetáculos. A trilogia de Ésquilo compõe-se por três livros – AgamémnonCoéforas e EuménidesCoéforas, o segundo momento deste projeto, acontecerá exclusivamente em Lisboa, em 2024. O culminar está previsto para 2025, num espetáculo que reúne os três livros. Terá apresentações no Minho e no grande auditório da Culturgest, em Lisboa.

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