A propósito do Dia Mundial das Hepatites, que se assinalou na sexta-feira, o presidente da Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia (SPG), Pedro Figueiredo, referiu que as estimativas apontam para a existência de cerca de 40.000 portugueses com o vírus da hepatite por diagnosticar.
“A hepatite C é uma doença silenciosa, por isso é que estão [tantos casos] por diagnosticar, e a possibilidade de que a hepatite evolua para situações mais graves de cirrose hepática e de cancro do fígado, ao longo de algumas décadas, (…) existe. Se não for diagnosticada a tempo e tratada, essa evolução pode acontecer”, explicou.
O que se recomenda — prosseguiu — “é que as pessoas façam o teste, designadamente através da medicina geral e familiar, pelo menos uma vez na vida”.
O especialista lembrou que muitas das pessoas que nas consultas de gastrenterologia acabam por mostrar valores alterados nas análises relativas ao funcionamento do fígado partilharam seringas na adolescência ou na juventude.
“Depois, reconstituíram a sua vida e não mantiveram hábitos toxicodependência. Só muitos anos mais tarde, quando vão ao seu médico de família e, por uma razão qualquer, fazem as análises do fígado e essas análises chamam a atenção para a possibilidade de existir uma infeção pelo vírus da hepatite C”, acrescentou.
Pedro Figueiredo salientou a importância da deteção precoce da infeção, frisando que a hepatite C, em mais de 97% dos casos, é curável.
“Hoje em dia, com um tratamento por via oral em comprimidos durante 8 a 12 semanas, (…) nós conseguimos, em mais de 97% dos casos, eliminar o vírus da hepatite”, afirmou.
Questionado sobre se considera que Portugal tem condições para eliminar até 2030 o vírus da hepatite c — a meta definida pela Organização Mundial da Saúde -, Pedro Figueiredo, que é igualmente diretor do serviço de gastrenterologia no Centro Hospitalar de Universitário de Coimbra, disse que, com a “consciencialização crescente das pessoas” e uma ação dirigida a populações como os toxicodependentes e reclusos, o país pode cumprir essa meta.
“Se nós também conseguirmos chegar a estas populações, (…) penso que talvez consigamos alcançar esse objetivo de eliminar a hepatite C até 2030 em Portugal”, afirmou.
Sobre o acesso à medicação, disse que não há dificuldade e lembrou que, há meses, era necessário registar a medicação num portal, mas até essa exigência desapareceu.
Referiu que se alguém demorar uma ou duas semanas a iniciar o tratamento, uma vez que a pessoa já estará infetada há dezenas de anos, tal não será problema.
“As pessoas que têm hepatite C crónica, normalmente, (…) têm muitas vezes a doença há muitos anos. Portanto, mesmo que na sua instituição de saúde haja um atraso duas ou três semanas no fornecimento do medicamento, não é isso que vai alterar nada”, garantiu.
O período de tempo que faz diferença é o que medeia entre o contágio e o diagnóstico, sublinhou.
Pedro Figueiredo explicou que a hepatite é uma inflamação do fígado que pode ser provocada por vários agentes, como os tóxicos – por exemplo, quando se come alguns cogumelos selvagens apanhados no monte.
“Há outras causas [da hepatite], relacionadas com a toma de medicação, com autoimunidade ou com doenças metabólicas ou, então, as hepatites causadas por vírus (A,B,C,D e E)”, explicou, sublinhando que os mais importantes são os C e B. Os restantes são menos frequentes e não provocam doença tão grave.