As burlas constituem um fenómeno criminal em crescendo, em contraciclo com a tendência da criminalidade geral no nosso país. Apesar da existência de um maior acesso à informação e uma população mais informada, o célebre “conto do vigário” continua a ser uma forma eficaz de obtenção ilegítima de valor patrimonial alheio.
Os idosos continuam a ser as principais vítimas de vários tipos de burlas praticadas pelos suspeitos. Contudo, nos últimos anos, e acompanhando a evolução tecnológica e as potencialidades do mundo digital, estes têm atingido outro tipo de vítimas.
De entre os potenciais riscos a que, inevitavelmente, os utilizadores se expõem com o uso das novas tecnologias, a PSP destaca a burla que ficou conhecida por “Olá pai, olá mãe”, cujo número de ocorrências tem vindo a aumentar.
Para a prática deste crime os suspeitos, através de mensagem escrita em aplicação de comunicação (maioritariamente WhatsApp), remetida de um número de contacto identificável, apresentam-se como um familiar muito próximo (filh@) da potencial vítima, seguindo usualmente duas variantes de abordagem:
1. Refere que o telemóvel do filh@ avariou, ou que se perdeu, e que o contacto telefónico agora utilizado será o seu único contacto até reparação ou aquisição de novo equipamento;
Ou,
2. Refere que alterou o contacto telefónico e que o número utilizado para remeter a mensagem passará a ser o seu habitual e único número.
3. Utilizam, na aplicação WhatsApp, fotografia do familiar da vítima pela qual se fazem passar por forma a credibilizar a origem do contacto.
A partir desta abordagem inicial o diálogo através de mensagens continua, para dar credibilidade à história, considerando e confirmando que se tratará de uma relação familiar próxima e estruturada, até chegar ao propósito pretendido, solicitar a transferência ou envio por intermédio de plataforma de uma quantia monetária, com a justificação de que se destina ao pagamento da reparação ou aquisição de um novo telemóvel, ou pedido de “empréstimo” para liquidar uma despesa urgente.
As ocorrências sinalizadas registam-se por todo o território nacional, com especial incidência nas zonas urbanas de maior densidade populacional. Ao contacto inicial, sempre através de mensagem escrita, segue-se uma conversação que poderá manter-se durante horas, com conteúdo informal e registos do dia-a-dia, com o intuito de avaliar a relação de proximidade entre a potencial vítima e o seu descendente.
É importante salientar que, quando a vítima tenta o contacto através de chamada de voz, a mesma não é atendida e é remetida mensagem escrita com uma justificação e incentivando o contato só por mensagem escrita.
Por esta razão, o contacto através de chamada de voz é a primeira e mais rápida forma de prevenção e de despiste de que poderá estar a ser alvo de uma tentativa de burla.
Com o intuito de reduzir o risco de vitimização, a PSP aconselha:
1. Não faça qualquer tipo de transferência de dinheiro para pessoas que anunciam na Internet, sem que esteja certo que o anunciante é legítimo;
2. Solicite referências ou dados adicionais sobre os produtos à venda, os imóveis a arrendar ou genericamente o objeto do contrato (exemplo outras fotos, em perspetivas específicas, entre outros);
3. Pesquise os dados e contactos do anunciante, pois poderá haver referências a burlas anteriores, especialmente em Fóruns ou Blogues temáticos;
4. Desconfie dos anúncios em que os preços são claramente abaixo do valor de mercado, ainda que tal preço tenha por base, alegadamente, um motivo válido. Para tal basta comparar com anúncios com características semelhantes e situados na mesma área.
5. Anúncios que existam de um ano para o outro têm maior probabilidade de ser verdadeiros pois, após as primeiras denúncias, a maioria dos servidores retira os anúncios e os anunciantes;
6. Solicite a uma pessoa da sua confiança que tente celebrar o mesmo negócio, a fim de verificar se o suposto proprietário faz um duplo negócio.
7. Verifique se o nome que está associado ao IBAN fornecido para o pagamento coincide ao do proprietário/empresa ou anunciante.
8. Pesquise as imagens apresentadas do anúncio a fim de verificar se são verdadeiras, ou retiradas de outras plataformas;
9. Desconfie dos proprietários que não disponibilizam um contacto telefónico no anúncio, este seja estrangeiro ou que nunca se consiga estabelecer contacto.
10. Desconfie quando o anúncio é mal redigido, ou na troca de “emails” existirem erros gramaticais, de pontuação e tempos verbais incorretos, indicativos de que foram utilizados tradutores.
11. Incoerência entre o idioma do proprietário, nacionalidade, número de telefone, país de residência e origem do IBAN, é indiciário de burla.
12. Não efetue transferências para contas bancarias estrangeiras, pois normalmente são utilizadas em esquemas fraudulentos.
13. Evite pagamentos para entidades bancarias (pagamentos serviços/compras), ou caso o faça, verifique se estas pertencem a instituições bancarias nacionais, entidades pertencentes a bancos estrangeiros, normalmente são utilizadas em esquemas fraudulentos.
14. Não aceda a endereços enviados através de “emails”, de outas plataformas para efetuar o negócio, poderá estar a ser enviada uma página falsa.
15. Após efetuar o pagamento o anunciante informar que não recebeu qualquer valor, ou a existência de problemas no seu processamento, solicitando um novo pagamento, contacte imediatamente o banco tentando perceber a veracidade da situação. Caso se verifique a existência de fraude cancele, imediatamente o pagamento já efetuado.
16. Guarde todas as trocas de “emails”, fotos e mensagens, caso o arrendamento não corra como acordado ou tenha sido vítima de burla e Denuncie de imediato o crime às autoridades.
CONSELHOS DE SEGURANÇA “Olá PAI, OLÁ MÃE”
1. Ligue sempre para o número original dos seus filhos e, caso consiga falar com eles e confirmar que se trata de uma tentativa de burla, reporte a situação de imediato à PSP.
2. Não realize qualquer transferência de dinheiro sem, pelo menos, previamente conseguir falar de viva voz e reconhecer a pessoa com quem pensa estar em conversação;
3. Despiste possíveis tentativas de burla com perguntas simples que, em princípio, o seu familiar conheça (quais as datas de aniversário de ambos, qual o curso e a universidade que frequentam ou frequentaram, qual a matrícula do carro da família, etc.).