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29 Jul 2024

As origens do renomado Jogo do Bicho

Rádio Geice

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O Jogo do Bicho é uma das práticas mais enraizadas na cultura popular brasileira. Criado a partir de uma necessidade de financiar o primeiro zoológico do Brasil, ele se tornou, em poucos anos, a maior loteria popular do mundo. A despeito de sua natureza informal, hoje é um jogo em forma de loteria amplamente aceito e praticado em diversas partes do Brasil.

De norte a sul é possível encontrar espaços dedicados às brincadeiras de bichos. Com a chegada da Internet, também está se tornando um jogo de apostas online muito popular. Afinal, é fácil entender como ganhar no jogo do bicho, conforme explicado neste blog. E o fato de ser muito simples acaba tornando-o uma opção preferencial para jogos de sorte para estudantes.

No entanto, até o jogo do bicho chegar ao nível de popularidade que tem hoje, ele passou por muita coisa. Vamos mergulhar um pouco na história desse jogo secular para entender suas origens e sua persistência na sociedade brasileira.

 

Jogo do bicho: muito mais do que um jogo

A história do jogo do bicho começa em uma região remota da então capital do Império Brasileiro, o Rio de Janeiro.

Localizado hoje na Quinta da Boa Vista, o Jardim Zoológico foi concebido por João Batista Viana Drummond, o Barão de Drummond, empresário mineiro que teria seu nome marcado na história, não pelas realizações enquanto empresário, mas sim por criar um dos jogos mais populares do mundo.

Filho de João Batista Drummond e Maria do Carmo Viana, João Batista Viana Drummond nasceu em Ouro Preto e mudou-se para o Rio de Janeiro aos 20 anos. Na capital, trabalhou em diversos ramos comerciais, incluindo a venda de vinhos e de casimira, acumulando fortuna. Com o dinheiro ganho, passou a investir no incipiente setor imobiliário da capital, que então se expandia.

Uma dessas terras ficava na porção a oeste da capital, conhecida como Fazenda do Macaca. Objetivando povoar o lugar, em 1871, solicitou ao Imperador a criação de uma linha de bondes entre a Fazenda do Macaco e a cidade. A solicitação foi atendida e, em 3 de janeiro de 1872, ele transformou a fazenda em um bairro: Vila Isabel. O nome era uma homenagem à filha do Imperador Dom Pedro II, Princesa Isabel, que ficou conhecida pela sua luta contra a escravidão.

No ano seguinte, começou a construção do bairro baseada na arquitetura parisiense, e em 1874 realizou o primeiro leilão de lotes. Em 1882, após a morte de sua esposa, alforriou seus escravos, e a vila tornou-se centro de movimentos abolicionistas. Assim, foi condecorado com o título de Barão de Drummond em 1888.

 

Deu avestruz no primeiro jogo do bicho

Apaixonado por animais, ele criou o primeiro Jardim Zoológico do Rio em Vila Isabel com apoio do Imperador.

Após a Proclamação da República, perdeu o apoio financeiro que recebia do Império e seus empreendimentos começaram a ruir. Entre eles, o então criado Jardim Zoológico. Com problemas para financiar a manutenção dos animais, Barão de Drummond recebeu a ajuda de Manuel Zevada, um dos seus funcionários, um mexicano que trabalhava no local.

Baseado no jogo das flores, muito popular no México, Zevada sugeriu a realização de um sorteio no zoológico do Barão. A ideia era simples: cobrar 1 mil réis pelo ingresso e imprimir junto deste um dos animais do zoológico. Realizariam-se 25 sorteios, cada um representando um bicho, e quem tivesse o ingresso do animal sorteado ganharia um prêmio em dinheiro.

Buscando atrair visitantes para o zoológico, Drummond aceitou prontamente a ideia e lançou o primeiro sorteio do jogo do bicho, em um domingo, em 3 de julho de 1892. Os visitantes que entravam no zoológico e olhavam para o mastro com um pano cobrindo a figura nem sabiam que estavam diante do primeiro sorteio do jogo do bicho. Naquele dia, os ganhadores foram os sortudos que tinham o desenho do avestruz no bilhete de entrada.

 

A evolução: do jogo para loteria

Inicialmente, o jogo do bicho era uma forma de entretenimento legítima e lícita, promovida dentro dos limites do Jardim Zoológico. No entanto, a popularidade do jogo cresceu rapidamente, e logo ele transcendeu os portões do zoológico e espalhou-se pela cidade do Rio de Janeiro. Pessoas de todas as classes sociais passaram a apostar nos números associados aos animais, tornando-se uma atividade cotidiana para muitos brasileiros.

A simplicidade do jogo – no qual se escolhia um animal e um número, e esperava-se o sorteio – fez com que ele rapidamente se tornasse uma forma acessível e compreensível de loteria. Por volta de 1894, a prática já estava disseminada pelas ruas do Rio de Janeiro, em parte graças aos “banqueiros do bicho”, pessoas que operavam a venda de bilhetes e a administração de prêmios.

Mesmo após mais de um século, o funcionamento do jogo do bicho permaneceu muito similar ao da sua criação: cada jogador escolhe um número correspondente a um animal, conforme uma tabela previamente estabelecida que associa 25 animais a grupos de quatro números, totalizando 100 possibilidades.

A aposta é feita em um determinado número ou em combinados, e os resultados costumam ser divulgados em horários fixos ao longo do dia. Os vencedores são aqueles cujos números escolhidos coincidem com os sorteados.

 

Aspectos culturais e sociais da época

O jogo do bicho rapidamente assumiu um papel cultural significativo no Brasil. Representava mais do que uma simples loteria; era uma expressão da criatividade brasileira e da capacidade de encontrar alegria e esperança na vida cotidiana. Simultaneamente, destacou-se como um cenário de resistência às estruturas formais e repressivas do governo e das instituições financeiras.

Apesar de ter sido proibido no início do século XX, o jogo permaneceu amplamente popular devido à indulgente aplicação das leis e à ampla aceitação social. Os números e os animais relacionados às apostas tornaram-se aspectos arraigados na cultura local, influenciando inclusive a interpretação de sonhos e a numerologia.

Os brasileiros passaram a associar determinados animais a diferentes características da vida cotidiana, uma tradição que ainda perdura.

 

A perspectiva econômica

O jogo do bicho, que era um mero passatempo e fonte de financiamento do Zoológico do Barão, tornou-se um fenômeno econômico subjacente na sociedade brasileira. Hoje, oferece uma forma única de redistribuição de renda, onde pequenas somas de dinheiro são apostadas, mas grandes prêmios são distribuídos.

Além disso, a rede do jogo do bicho desenvolveu uma série de novos empregos, fomentando a economia da cidade do Rio de Janeiro e, em seguida, a do país todo. Esse sistema criou uma sensação de esperança e oportunidade para muitos brasileiros que, de outra forma, se sentiriam impotentes diante das estruturas econômicas tradicionais.

 

O legado do jogo do bicho

Hoje, o Jogo do Bicho continua sendo amplamente praticado. Tornou-se um sucesso de público até mesmo na internet. Assim, além de jogar nas famosas bancas do bicho, espalhadas nos cantos do país, o jogo do bicho também pode ser jogado online, tornando-se um símbolo de criatividade cultural.

Com o passar dos anos, a fácil acessibilidade e a simplicidade do Jogo do Bicho fizeram com que se tornasse mais do que um simples jogo de azar. Ele tornou-se uma expressão do espírito brasileiro, capturando a imaginação e a esperança de milhões.

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