“Antecipação do processo de envelhecimento de adultos de meia-idade com incapacidades sensoriais” é o nome da dissertação de Inês Areia, mestre em Gerontologia Social pela Escola Superior de Educação do Politécnico de Viana do Castelo, que lhe valeu uma distinção pela Associação Promotora do Ensino para Cegos (APEC).
O estudo, de natureza qualitativa e com abordagem fenomenológica, procura compreender como adultos na meia-idade com incapacidades sensoriais vivem essa fase da vida e antecipam o envelhecimento. É, segundo a APEC, o primeiro trabalho académico em Portugal a focar-se nesta realidade. “Este tema toca-me pessoalmente. Eu própria vivo com uma incapacidade visual e quis, através da minha investigação, dar voz a outras pessoas com experiências semelhantes. Depois eu sempre gostei muito de pessoas em geral e perceber todo o ciclo de vida é algo que me fascina”, sublinha Inês Areia, natural de Esposende.
Licenciada em Educação Social e Gerontológica e com mestrado em Gerontologia Social, ambos pela Escola Superior de Educação do Politécnico de Viana do Castelo, Inês Areia encontrou na ESE-IPVC o contexto ideal para aprofundar o seu olhar humanista e intervir socialmente com base no conhecimento científico. Mais do que um trabalho académico, a dissertação resulta da vivência e da sensibilidade da autora, que decidiu cruzar a sua história pessoal com o percurso académico. “Hoje o envelhecimento ainda é visto como uma ‘coisa má’ e quis perceber uma forma de as pessoas, num ciclo de vida muito particular, a última fase de vida, viverem de uma forma melhor”, dá nota ainda Inês Areia.
A atribuição deste prémio nacional reforça o compromisso do Politécnico de Viana do Castelo com uma formação académica centrada nas pessoas, no território e na inclusão. A Escola Superior de Educação (ESSE-IPVC) tem-se destacado pelo investimento em áreas emergentes e socialmente relevantes, como a gerontologia, com uma abordagem pedagógica próxima, aplicada a contextos reais e com impacto direto na comunidade. “Olhar para o envelhecimento com mais empatia e menos estigma, sobretudo em pessoas com deficiência, foi um dos grandes objetivos deste trabalho”, acrescenta a jovem de 25 anos.
Entre as principais conclusões da investigação, destaca-se a influência do meio envolvente na forma como se vive a meia-idade com deficiência ou algum outro tipo de incapacidade. O estudo identificou maiores dificuldades de inclusão e mobilidade em contextos rurais, bem como a persistência de preconceitos no mercado de trabalho, mesmo entre pessoas com elevados níveis de escolaridade. “Estas pessoas estão formadas e têm competências, mas continuam a sentir resistência por parte das entidades empregadoras. Eu própria vivi essas dificuldades ao tentar entrar no mercado.” Estas conclusões revelam, acrescenta Inês Areia, a importância de políticas inclusivas e de modelos de envelhecimento mais integradores.
“Receber este prémio foi muito gratificante. É o reconhecimento de que vale a pena lutar por temas que ainda são pouco falados, mas que fazem toda a diferença para quem os vive todos os dias”, remata Inês Areia.
A Associação Promotora do Ensino para Cegos (APEC) é uma IPSS que trabalha em prol dos direitos e inclusão de cerca de 35 mil pessoas cegas e 590 mil com baixa visão em Portugal, segundo dados da Sociedade Portuguesa de Oftalmologia.