Dois trunfos que ajudam a atrair datacenters, multinacionais tecnológicas e, claro, novos modelos de lazer digital. Hoje em dia, com alta definição e boa velocidade de carregamento, proliferam desde streaming até jogos ao vivo.
Este palco de ligações a 1 Gbps (e acima) explica por que motivo ganham força as caixas misteriosas online Jemlit, experiências de unboxing em directo que dependem de streaming estável e de pagamentos instantâneos. Já ninguém duvida de que a largura de banda veio para ficar. A expansão das redes móveis confirma o salto qualitativo.
Só no primeiro trimestre de 2025 havia 4,3 milhões de utilizadores activos de 5G, mais 70% que um ano antes, e quase 14.000 estações base instaladas de Norte a Sul. O resultado é palpável. Jogos na nuvem sem atrasos e videoconferências em 4K, algo impensável à escala nacional há pouco tempo.
Portugal, encruzilhada do Atlântico
Não é apenas velocidade doméstica. A posição geográfica faz do país uma rótula de dados entre Américas, Europa e África. O cabo EllaLink, por exemplo, encurtou em 51% a latência Lisboa-São Paulo, abrindo caminho a serviços financeiros e de entretenimento em tempo-real focados nos mercados lusófonos.
Especialistas sublinham que a infraestrutura de fibra coloca Portugal entre as melhores da UE, potenciando negócios que vão do e-sports às plataformas de vídeos curtos, que precisam de tempos de resposta de milissegundos. Com tanta largura de banda, assistir a conteúdos on demand deixou de ser luxo.
Em 2025, 42,2% dos portugueses já pagavam pelo menos uma plataforma de streaming, segundo o estudo BStream da Marktest, e a Netflix continua a liderar as intenções de subscrição no curto prazo. Não admira, pois, que séries como “Rabo de Peixe” possam chegar rapidamente ao top 10 global.
A mesma conectividade molda o consumo de notícias. O Facebook mantém-se, em 2025, o principal espaço para informação jornalística, sendo usado por 34% dos internautas nacionais para aceder a “última hora”, revela o Digital News Report Portugal 2025. Porém, pagar por notícias continua raro.
Apenas 10% admite fazê-lo, um dos valores mais baixos da Europa, segundo o OberCom. O efeito colateral é evidente, já que órgãos tradicionais esforçam-se por modelos suportados por publicidade ou doações, enquanto investem em podcasts e newsletters para captar audiências nicho. Esse ecossistema híbrido vê ainda o surgimento de criadores independentes e festivais de música que se desdobram em experiências online interactivas.
Economia do entretenimento e a próxima década
O áudio on-demand conquistou espaço entre os hábitos digitais dos portugueses, com 28,4% da população já ouvindo podcasts com regularidade, segundo o estudo “Bareme Internet” da Marktest.
Esse público, jovem, urbano e com maior poder de compra, tornou-se alvo de patrocínios de fintechs, operadoras de telecomunicações e até de clubes de e-sports, que veem no formato uma via direta para nichos bem segmentados.
A vitalidade do sector comprova-se pelo primeiro ranking auditado Pod_Scope, em que o “Extremamente Desagradável” somou mais de 2,7 milhões de downloads só em janeiro de 2025, colocando Portugal na rota dos anunciantes internacionais interessados no mercado lusófono.
Com o português a figurar entre as seis línguas mais usadas na internet, e a terceira no Facebook, segundo dados do Camões, Instituto da Cooperação e da Língua, obras locais ganham alcance global quase instantâneo. O fenómeno repete-se no audiovisual, e a projeção alastra à música eletrónica.
Quando a infraestrutura avançar para a 6ª geração móvel, já em testes na Universidade de Aveiro com apoio de consórcios europeus, antevê-se latências sub-milissegundo e holografia em tempo real para espetáculos ou mesas de casino virtual.
Nessa era, a experiência online poderá envolver realidade mista e feedback háptico, aproximando-se da sensação de estar num ambiente físico. Do lado editorial, o relatório Obercom “Generative AI: Risks and Opportunities for Journalism” mostra como redações começam a usar modelos de IA para legendar vídeos multilíngues, sugerir headlines e personalizar notificações.
A adoção promete eficiência, mas traz novos dilemas éticos, da autoria dos textos à proteção de dados dos leitores, questões que reguladores e empresas terão de acomodar sem travar a inovação.
Assim, Portugal entra em 2026 com redes mais rápidas, talento criativo e regras claras a convivência entre negócio e cultura digital. Resta saber até onde nos levarão estas sinergias, e que novas formas de entretenimento surgirão quando velocidade, conteúdo e comunidade se fundirem num único ecrã.