Recém-chegada da ilha de Santiago, onde esteve dois meses ao abrigo do programa Erasmus+, Miriam Portela descreve a experiência como “extraordinária”. Já conhecia Cabo Verde da sua passagem pela ilha do Sal, mas desta vez viveu a realidade local de forma mais próxima. “Senti-me cidadã da ilha. Fui muito bem recebida, vivi o dia a dia para além daquilo que é ser turista e percebi de perto como as pessoas vivem. É impossível sair de lá igual”, afirma a estudante da licenciatura em Biotecnologia da Escola Superior Agrária do Politécnico de Viana do Castelo.
A mobilidade integrou o projeto INCUBATOR, dedicado à identificação de fatores associados ao desenvolvimento do cancro da próstata. O trabalho de Miriam consistiu numa revisão sistemática, ou seja, na análise crítica de estudos científicos já publicados para avaliar a sua validade e relevância. A investigação incidiu no licopeno, um composto presente no tomate, e no seu efeito em homens diagnosticados com aquele tipo de cancro. “O objetivo foi reunir e avaliar estudos para perceber se são válidos e consistentes. Estamos a preparar um artigo que será publicado no PROSPERO, uma base de dados internacional de referência. É um orgulho saber que o meu nome vai estar associado a este trabalho, ao lado dos professores e investigadores Neidy Rodrigues e João Moreno, da UniCV, e do Politécnico de Viana do Castelo”, explica.
“Senti-me uma pequena cientista”
A estudante fala das diferenças entre fazer investigação em Portugal e em Cabo Verde e destaca o desafio que foi lidar com realidades e recursos mais escassos. “Eles têm muito menos recursos, mas aplicam a ciência com grande impacto e sabedoria. Aprendi muito com cientistas que, apesar das limitações, fazem investigação relevante e transformadora. Isso mostrou-me o verdadeiro valor da ciência”, sublinha.
Para Miriam, esta experiência marcou-a em todas as dimensões e confessa que não contava com um algo tão transformador: “Sou uma Miriam muito mais rica depois destes dois meses. Cresci porque participei num projeto realmente importante, com potencial que pode ter realmente impacto na PALOP. Senti-me uma pequena cientista.”
Mobilidades que mudam percursos
Com uma experiência tão rica, Miriam Portela não tem dúvidas e desafia todos os estudantes a participarem em projetos que os tirem da zona de conforto. “Participar num programa de mobilidade é uma oportunidade única. Vivemos algo completamente diferente, deparámo-nos com realidades totalmente novas e enriquecemos o currículo. Não tenham medo. Desde o momento em que pus os pés fora de Portugal, fui acompanhada e apoiada por todos. É uma experiência que não devemos deixar passar”, garante.
De regresso a Portugal, Miriam Portela quer concluir a licenciatura e prosseguir para um mestrado na área da saúde e investigação. “Imagino-me a seguir pelo ramo da investigação ligada à saúde. O Politécnico de Viana do Castelo foi o meu ponto de partida e continua a ser o meu suporte para ir mais longe”, conclui a jovem que ambiciona ser investigadora.