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Há 1 hora

Debate sobre censura nas artes em foco no Festival de Teatro de Viana

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Com moderação de Anabela Mota Ribeiro, Sara Barros Leitão, Paula Mota Garcia e o encenador suiço Milo Rau participaram no debate "Interferência Política nas Artes: Pela Liberdade Artística Contra a Censura", que teve lugar na passada segunda-feira, dia 17, pelas 15h00, no Festival de Teatro de Viana do Castelo.
Na Sala Experimental do Teatro Municipal Sá de Miranda, uma plateia atenta e participativa assistiu à introdução da moderadora: Anabela Mota Ribeiro, criada em Vila Real e com raízes familiares no Minho, conduziu a conversa com mestria, começando por ler um texto escrito por Sophia de Mello Breyner Andresen há 50 anos, justamente sobre o tema da censura nas sociedades.
Seguiu-se o encenador suiço Milo Rau que, a partir de Viena, onde dirige o Wiener Festwochen, um dos maiores festivais de teatro da Europa, deu testemunho da iniciativa “Resistance Now! Together” (Resistir Agora! Juntos), por ele iniciada e que junta mais de duas centenas de instituições culturais de toda a Europa numa aliança pela defesa do direito à livre criação artística, assim como pela exigência de uma legislação europeia que defenda os direitos dos artistas de forma comum no seio da União Europeia. Rau, que acaba de ver a sua peça “O Julgamento Pelicot” ser banida, por imposição governamental, do programa do BITEF, de Belgrado, capital da Sérvia, um dos mais importantes festivais internacionais de teatro da Europa de leste, facto que motivou a demissão da direção artística do certame e provocou uma reação por parte de vários artistas que recusaram integrar o festival e se uniram a Milo Rau na organização de um festival alternativo de protesto, intitulado “BITEF de Guerrilha”. O artista citou ainda vários outros casos de ingerência política nas artes nos dias de hoje, em países como Eslováquia, Hungria, Bielorússia e Geórgia, considerando que esta é uma vaga que se está a deslocar de leste para oeste na Europa.

A programadora Paula Mota Garcia, que liderou a candidatura de Évora a Capital Europeia da Cultura 2027, partilhou uma comunicação sobre as consequências da iliteracia cultural na participação das comunidades na cultura, tendo também abordado o seu caso pessoal relativamente ao desfecho da candidatura eborense que, tendo sido vencedora e conseguido para aquele município e região a realização da Capital Europeia da Cultura 2027 culminou, ao fim de um processo altamente politizado, na demissão por decisão própria, assim como da sua equipa, em solidariedade.
A atriz, dramaturga e diretora artística Sara Barros Leitão pautou a sua intervenção por um conjunto de cinco elementos através dos quais a criadora portuense considera que estão hoje na ordem do dia quando se trata de interferência política nas artes, a começar por aquela que considera mais difícil de combater e que é a auto-censura que artistas e programadores se impõem, com receio de serem prejudicados pelos órgãos e instituições dirigentes, ao nível político mas também das direções dos teatros municipais e nacionais. Na sua trajetória, Sara Barros Leitão tem colecionado um conjunto de factos relativos a projetos que não cumpriu, na medida que escolheu não os aceitar ou desistir dos mesmos, sempre que sentiu existirem interferências ou formas de censura ao seu trabalho, referindo mesmo a ideia de um “currículo negativo” constituído por todas as ações que o dizer “não” consubstancia, manifestando ainda o seu orgulho neste seu currículo alternativo e também não tendo deixado de abordar um caso pessoal de interferência dirigista no seu trabalho que levou a que tivesse ela própria cancelado o seu próprio projeto num determinado teatro público português.
A moderação de Anabela Mota Ribeiro foi pontuando cada momento com comentários e citações literárias muito oportunas que ia registando durante as intervenções das e do interveniente, passando para uma segunda ronda de questões relacionadas, já para respostas mais sintéticas, antes de passar a palavra à assistência, para um momento de perguntas, respostas e comentários que terminou com uma conclusão que a moderadora escolheu deixar em aberto, na vez de concluir, por considerar que o que ali aconteceu foi um semear de questões que, longe de qualquer pretensão em alcançar verdades ou fórmulas, antes primou pelo exercício de um direito constitucional que convém não esquecer nos dias que correm: o direito de livre associação, de encontro, de conversa, de debate e mesmo de confronto de ideias, mas uma oposição fundada na curiosidade e respeito pelo outro como forma de encarar o mundo. Foi o que aconteceu na Sala Experimental do Teatro Municipal Sá de Miranda.
O Festival de Teatro de Viana do Castelo decorre de 15 a 22 de novembro. Quinta-feira dia 20, às 21h00, a companhia Butaco Zero, de Vigo, apresenta “O único que verdadeiramente quixen na vida é ser delgada”. Na sexta-feira é a vez de “Lá” pelo Teatro do Montemuro e Teatro Meridional, também às 21h00 e o festival termina no sábado, com o espetáculo para famílias “Tocas” da Companhia Caótica, às 11h00 e às 16h00, e a fechar, os alemães Familie Flöz, com “Hokuspokus”, num espetáculo visual com música ao vivo. Todos os espetáculos do festival contam com recursos de acessibilidade, como legendagem dupla em Inglês e Português, reconhecimento de palco, audiodescrição e interpretação em Língua Gestual Portuguesa, para além de atividades de mediação como conversas entre artistas e públicos.
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