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10 Ago 2022

Feira Franca assinala 250 anos de história na Romaria d’Agonia Viana do Castelo

Pedro Xavier

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Um alvará assinado em 1772 por D. José I mudaria para sempre a Romaria d’Agonia, ao  autorizar uma Feira Franca que ainda hoje se realiza e que assinala este mês 250 anos de uma  história por vezes atribulada e que estará em destaque no cortejo da festa de 2022. 

De acordo com alguns historiadores, a Romaria foi-se construindo a partir da aglomeração de  diversos eventos à volta das celebrações religiosas em Honra de Nossa Senhora d’Agonia, que  em 1744 passam a dar nome à capela local. 

Marcada desde o início pela grande devoção popular, a Romaria rapidamente teria direito a  Feira Franca, que também em pouco tempo granjeou o título de uma das melhores do Reino,  tal era o movimento na zona envolvente do Campo do Castelo, onde ainda hoje acontece. 

Conforme a provisão do Rei D. José I, a Feira Franca decorreria nos dias 18, 19 e 20 de agosto,  no Campo do Castelo, e nela vendia-se praticamente de tudo, de tecidos a ouro, de  quinquilharias a chapéus e luvas, de tabaco e lenços e calçado, atraindo todos os tipos de  feirantes e clientes, em largas dezenas de barracas. 

“Com o passar dos tempos, a Feira Franca foi-se adaptando e evoluindo, ao ponto de na  atualidade, podermos considerar como ‘Feira Franca’ todas as barraquinhas/stands que vemos  na Romaria de Nossa Senhora d’Agonia”, explica o historiador Hermenegildo Viana que  preparou o tema para integrar o típico Cortejo Histórico-Etnográfico da festa, que, como é  hábito, ao longo de cerca de três horas junta mais de 3.000 figurantes a percorrer as principais  ruas da cidade, previsto para domingo, 21 de agosto. 

O cortejo Histórico-Etnográfico da Romaria assume-se como uma mostra dos usos e costumes  do concelho, mas serve igualmente como uma lição da história da região. Assim, o cortejo de  2022, após dois anos de interrupção devido à pandemia de covid-19, vai dedicar especial  atenção, na componente histórica, o “Caminho da Costa”, para celebrar a certificação do  Caminho de Santiago Português – Caminho da Costa. Num outro registo, o cortejo vai  igualmente assinalar os 250 anos da introdução da Feira Franca às celebrações religiosas em  Honra de Nossa Senhora d’Agonia. 

O ano de 1772 marca assim um grande passo na evolução da Romaria de Nossa Senhora  d’Agonia, pois, com a permissão de se juntar às celebrações religiosas, três dias de Feira Franca,  esta festa inicia um longo percurso de afirmação da cultura popular vianense. 

“Logo, desde os stands da Feira/Exposição de Artesanato no Jardim Marginal, às barraquinhas  com variados produtos na Alameda João Alves Cerqueira e Avenida Campo do Castelo, às  lavradeiras com seus produtos regionais na Praça General Barbosa, até aos divertimentos no  Campo do Castelo, assim como as barraquinhas e stands de comida e bebidas por todo este 

espaço, todos estes elementos são a continuação de uma feira que assinala em 2022 os seus  250 anos”, sustenta o historiador. 

Ainda assim, a introdução desta feira não foi do agrado de todos e logo no primeiro ano a  Confraria de Nossa Senhora d’Agonia requereu à Câmara Municipal a obrigação de todos os  lojistas da cidade apenas venderem os seus produtos na Feira Franca, imposição que gerou  polémica na então vila de Vianna e que chegou à capital do Reino. 

Em 1776, a Confraria queixa-se que a maior parte dos negociantes se “repugnam” em deslocar  as lojas para o campo da feira durante o período da Feira Franca da Romaria como o deviam  fazer, e em consequência a Câmara Municipal condenou com multa e dias de cadeia, os  comerciantes que não instalassem as suas barracas no Campo do Castelo. 

A contestação segue-se nos meses seguintes e nem um abaixo-assinado que chega a D. Maria I  altera a decisão, que aos comerciantes locais a monarca proíbe que vendam “cousa alguma” e  ordena que fechem as lojas enquanto a feira durar, instalando barracas naquele recinto. 

Durante vários anos as contestações à realização da Feira Franca continuaram e uma exposição  dos comerciantes, criticando vícios e ajuntamentos noturnos que ali alegavam existir levou o  Príncipe Regente D. João a proibir a sua realização, por provisão de 12 de julho de 1800. 

Mais uma vez, numa história que será retratada no cortejo principal da Romaria, a polémica não  ficou por aqui e os vianenses contra-argumentaram a proibição na capital, dizendo que não teve  em conta o crescente culto de Nossa Senhora d’Agonia. Já a Confraria, acusou mesmo que tinha  sido ocultado ao Príncipe Regente que duas escoltas de militares rondavam de dia e de noite,  continuamente, o recinto da Feira Franca. 

Estes argumentos convenceram D. João, que repôs a feira, por provisão de 19 de dezembro de  1801, mantendo-se, como desde a sua génese, uma feira tradicional, na qual se podiam adquirir  dos mais diversos tipos de mercadorias. Ao mesmo tempo, surgiam associadas a esta as  barracas de comes e bebes, assim como divertimentos, num paralelo que ao fim de mais de 200  anos se mantém intacto, embora adaptado aos tempos atuais da Romaria de Nossa Senhora  d’Agonia.

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